Um casal de aventureiros uruguaios está indo por estrada em direção ao Alasca, nos Estados Unidos. A dupla viaja em uma Kombi azul com a bandeira do país e muitos adesivos colados na carroceria. Outro casal de amigos argentinos acompanha parte da viagem em uma caminhonete, mas devem ir apenas até Florianópolis.
Os veículos foram adaptados e contam com placas de captação de energia solar, camas, mesas, geladeira, utensílios e até banheiro. No início de fevereiro, os dois podiam ser vistos em Imbé, onde pernoitavam perto da roda-gigante, na entrada do município, e em Tramandaí, no Litoral Norte.
O próximo destino, ainda sem data marcada, seria Porto Alegre. Os viajantes ainda não conhecem a capital gaúcha e nem sabem onde poderão pernoitar com suas casas sobre quatro rodas. Mas pretendem visitar o Parque Farroupilha (Redenção), inclusive para oferecer seus produtos no Brique.
O casal de artesãos formado por Javier da Rosa, conhecido como El Yeta, 48 anos, e Alejandra Testa, La Rubia, 50, pode ser acompanhado pelas redes sociais no perfil Enyetados Uruguay. Os dois partiram de Punta del Este, departamento de Maldonado, no Uruguai, em 26 de dezembro de 2024. A Kombi ano 1994 está toda decorada. Em uma das laterais está escrito Carpe Diem (Aproveite o Dia, na tradução do latim). O veículo foi batizado de Alasca.
— É um sonho viajar até o Alasca. E é o ponto mais distante que podemos chegar por terra de Kombi — explica Javier, dizendo que a viagem começou a ser planejada antes da pandemia.
Os viajantes geralmente fazem as refeições nos próprios veículos, ou então comem em restaurantes. Na parte traseira da Kombi, há uma caixinha acoplada onde doações podem ser depositadas para ajudar na viagem. Durante parte do dia, os artesãos expõem à venda produtos como incensos, pedras, duendes, pulseiras e brincos. Estiveram com um tabuleiro no calçadão perto da plataforma de Tramandaí durante a festa de Iemanjá no sábado (1°).
É um sonho viajar até o Alasca. E é o ponto mais distante que podemos chegar por terra de Kombi.
JAVIER DA ROSA
Questionados sobre como financiar uma viagem tão extensa — e sem data para terminar —, Javier compartilha que não contam com patrocinadores. O dinheiro vem da comercialização do artesanato e de doações de pessoas que cruzam seus caminhos.
— Fazemos a viagem sozinhos, a pulmão, como dizem os uruguaios.
Para Javier, a maior dificuldade está em encontrar um local para o pernoite de todos em segurança. Além de conhecer o Alasca, o casal pensa em passar uma temporada de inverno no Canadá, "para ver como é".
Os dois possuem um mascote. Trata-se do cãozinho Sky, de apenas dois anos. Javier tem um conselho para quem planeja algo semelhante e ainda não teve coragem de partir:
— Que saíam e desfrutem. Sem medo. Todos chegam.
O casal ainda não decidiu todo o trajeto da viagem. Mas devem pegar navio para atravessar da Colômbia para o Panamá ou o México. E pretendem ainda ficar um mês em Cuba.
Pandemia mudou a vida
O casal argentino Marcelo Salimbeni, 42, e Daniela Fernandez, 47, forma La Pareja Rutera (no YouTube). A caminhonete em que viajam é uma Sprinter 1998. Era um micro-ônibus escolar que foi adaptado e tem até compartimento com chuveiro dentro. O veículo foi batizado de La Cuca.
Nosso objetivo é conhecer lugares e não ter um destino.
MARCELO SALIMBENI
Eles conheceram os amigos uruguaios há alguns anos durante um encontro de motorhome, em San Carlos, no departamento de Maldonado.
A viagem dos argentinos teve início em 3 de novembro. O ponto de saída foi Buenos Aires. A sequência foi pela costa uruguaia até a entrada no Brasil pelo Chuí. Na Praia do Cassino, na zona sul do RS, encontraram os amigos uruguaios para parte da aventura.
— Nosso objetivo é conhecer lugares e não ter um destino. Não colocamos uma meta. É ir e conhecer, como o Uruguai, que gostamos, e entramos no Brasil. Chegaremos em Florianópolis. Não temos um final, nós vivemos viajando — afirma Marcelo, que antes trabalhava como chefe de logística de caminhões na Argentina.
A pandemia foi determinante para a mudança de vida do casal. Segundo Marcelo, os dados da doença teriam sido distorcidos pelo governo durante o período de distanciamento social. A situação, conforme externaliza, teria sido bem grave no país.
— Depois da pandemia, eu e minha esposa tivemos um estalo e decidimos trocar de vida. Decidimos trabalhar para viver, e não viver para trabalhar. Foi quando escolhemos desfrutar mais a vida e não pensar tanto no material. O homem se destaca por ser muito materialista e não aproveita a vida, que é uma só. E nunca sabemos quanto tempo dura uma vida — reflete.
De acordo com Marcelo, as dificuldades em uma viagem dessas é a pessoa apresentar algum possível problema de saúde durante o trajeto. E outro seria escolher um local inseguro para dormir sem saber dos riscos.
Indagado sobre quais lugares mais gostaram até o momento, a resposta passa pela zona sul do Estado e até pelo Litoral Médio e Norte.
— Sempre digo o mesmo: cada lugar tem sua particularidade. Nós gostamos muito da praia e das pessoas no Cassino. Depois estivemos no Farol de Solidão, em Mostardas. Terminamos em Tramandaí. Não há um lugar mais lindo do que o outro. Cada um tem sua particularidade — pondera.
O casal também comercializa artesanato e incenso para custear a viagem. Quando voltarem para a Argentina, algo que não sabem ainda quando será, pretendem passar 15 dias com os familiares. Em seguida, partirão para a estrada novamente.
— Somos argentinos e não conhecemos toda a Argentina. Queremos conhecer o Paraguai. E o Brasil nos encantou. Em 2016, fomos em Búzios, no Rio de Janeiro, e as pessoas e as praias nos impactaram — conclui.