Em frente a um terreno cercado à beira-mar, em Capão da Canoa, no Litoral Norte, uma idosa interrompe a caminhada para espiar o interior do espaço.
— O que tem agora no lugar do Bassani? — pergunta à reportagem Vera Lúcia Camargo, 75 anos, frequentadora da praia há mais de 20 anos e moradora de Santa Maria, na Região Central.
A resposta é o complexo de esportes de areia Alma Beach, inaugurado no último dia 14. O negócio ocupa o terreno onde ficava o Hotel Bassani, fechado após 95 anos de atividades e que teve o prédio demolido em julho.
— Quando soube que o local estava disponível, procurei o proprietário e fechei o negócio. É um dos melhores pontos de Capão. O futuro empreendimento construído aqui terá muito sucesso, com certeza — diz Agnaldo Oliveira, 57 anos, responsável pelo complexo.
O ponto foi alugado pelos próximos dois anos até os donos decidirem o que será construído ali.
São quatro quadras de areia para aluguel, food trucks com várias opções de lanches, um ambiente para consumo de bebidas e alimentos, espaço kids, churrasqueira e estacionamento de veículos.
Funcionará todos os dias das próximas duas temporadas de verão (entre dezembro e março), das 7h às 23h.
— Estamos vendo um crescimento no beach tennis e no vôlei. Então, criamos esse espaço em uma área que é nobre. É uma praia com uma infraestrutura muito boa, tem tudo — acrescenta Agnaldo, que trabalha com a esposa, a filha e dois funcionários no empreendimento.
No início dos anos 2000, o empresário trabalhou por três verões no Bassani, em uma parceria na qual ele era o responsável pelo restaurante do hotel.
Era um hotel importante e famoso. Recebia pessoas de todos os lugares. Ainda tenho algumas amizades daquele tempo. Foi uma época muito importante para mim: minha filha era pequena e eu estava começando a vida.
AGNALDO OLIVEIRA
Empresário responsável pelo complexo
Primeiro verão sem o emblemático prédio
Neta do fundador e ex-sócia do hotel, Lissandra Bassani diz ter acompanhado todo o processo de demolição da edificação, que, segundo ela, foi uma fase de luto. E afirma que “dói” não ver a estrutura à beira-mar, por onde passa com frequência.
Quando começaram as negociações, caminhava muito pelo hotel, me despedi de cada cômodo. O legado que fica foi o que nos ensinaram lá dentro, entre valores e sentimentos, além da gratidão às milhares de famílias que passaram pelo hotel.
LISSANDRA BASSANI
Neta do fundador e ex-sócia do hotel
Rodrigo Kohlrausch, 46 anos, trabalhou por 19 temporadas na recepção do Bassani. Diz lembrar do hotel como um ambiente "cheio de vida e histórias que marcaram gerações".
— Quando passo na frente e não vejo mais o grandioso Hotel Bassani, bate uma tristeza, mas há um sentimento de dever cumprido, de saudade e de alegria. Sou feliz por saber que fiz parte dessa história — diz o hoje motorista.
Futuro do terreno
A propriedade foi comprada por duas empresas do ramo imobiliário: Nazale Incorporadora e Construtora, de Capão da Canoa, e Dallasanta, gestora de ativos imobiliários de Porto Alegre.
Segundo Cristiano Caetano, CEO da Dallasanta, ainda não há definição sobre o futuro do local de mais de 3,2 mil metros quadrados.
É uma área muito importante, que demanda um forte investimento. Em 2025, vamos criar a convicção sobre o que fazer, mas provavelmente será na linha do residencial. Não há uma definição sobre se será uma operação hoteleira.
CRISTIANO CAETANO
CEO da Dallasanta, gestora de ativos imobiliários de Porto Alegre, uma das compradoras do empreendimento
— Nesta temporada e na outra, liberamos (o aluguel do ponto) para dar vida à área e não ficar um terreno baldio na frente do mar — explica.
Negócio histórico
O hotel foi inaugurado em 1928 na Rua Moema, por Luiz e Emília Bassani, em uma estrutura de madeira. Após investimentos nas décadas de 1950 e 1970, o empreendimento passou a ter três andares e 118 quartos, configuração mantida até o fim do negócio.
O espaço era conhecido por ser a base do Garota Verão, principal concurso de beleza do Estado. O estabelecimento, encerrou as atividades em 13 de abril de 2023 e os 12 sócios que administram o local decidiram fechar espaço e vender os itens para pousadas e restaurantes da região. Depois, ocorreu a venda do espaço físico.