Em menos de 24 horas, dois animais aquáticos foram encontrados mortos na areia de praias do Litoral Norte do RS. Na manhã de quarta-feira (18), um boto foi encontrado na praia de Tramandaí. No fim da tarde do mesmo dia, um golfinho foi visto, já sem vida, um pouco mais ao norte, em Arroio Teixeira. Segundo especialistas, as duas espécies estão ameaçadas de extinção. A causa provável é que eles tenham sido feridos e trazidos para fora da água por redes de pesca.
O golfinho foi visto por pescadores em Arroio Teixeira por volta das 19h de quarta. O animal estava próximo de uma guarita ao sul da praia. Ele foi visto na areia já sem vida e fotografado por Leandro Rist, um morador do local.
— É uma pena. Tem muitos barcos fazendo arrastão por aqui, provavelmente ele ficou preso nas redes. Na terça-feira também vimos uma tartaruga grande (morta), entre Arroio Teixeira e Curumim — diz o morador.
Na manhã desta quinta (19), o corpo do golfinho foi levado por equipes e passa por necropsia no Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Conforme Ignacio Moreno, pesquisador do centro e professor da universidade, trata-se de uma toninha (Pontoporia blainvillei). Pelas imagens do animal, o professor acredita ser uma fêmea em idade adulta. A espécie vive no máximo 20 anos.
— A principal causa de morte de toninhas é a rede de pesca. O pescador não tem intenção de capturá-la, mas ela acaba se prendendo na rede. Quando puxam, ela acaba encalhando ou se ferindo e morre. Infelizmente é bastante comum — explica.
A análise que indicará a causa da morte e mais informações sobre o golfinho ainda não foi concluída.
Boto-de-Lahille poderia estar doente
Já o boto foi encontrado por banhistas na manhã de quarta-feira, entre as guaritas 146 e 147, em Tramandaí. Macho, o boto-de-Lahille (Tursiops Gephyreus) media 2,92 metros — eles podem chegar a 3,4 metros. Conforme a Ceclimar, trata-se de um jovem adulto, em idade aproximada de 20 anos, de uma espécie que pode chegar a 60 anos.
Ele apresentava diversas marcas que seriam de redes de pesca pelo corpo, com cortes, e estava sangrando pela cauda.
— Na necropsia, se descobriu que ele estava com algum problema. O pulmão estava bem inchado, com quadro que pode ser de pneumonia. A conclusão da análise deve vai levar cerca de 15 dias. Sabemos que ele já estava com algum problema, mas ainda não é possível dizer se isso foi causado ou agravado por uma rede de pesca, ou se ele caiu na rede já estando doente — aponta.
Um material extraído do boto foi encaminhado para o setor de patologia da UFRGS, para aprofundar a análise. As equipes especialistas também irão verificar se ele seria um dos que pertence ao projeto Botos da Barra, em que os animais ajudam pescadores a capturar tainhas, ou se veio de fora.
Segundo o pesquisador, a morte de animais aquáticos como esses causa impacto no ambiente e prejudica as espécies, que se encontram ameaçadas de extinção. Em relação ao boto-de-Lahille, estima-se que existam apenas 600 adultos em todo o mundo. Os dois animais vivem em área costeira e são muito vulnerável a ações humanas, como a poluição e a pesca.
— Os dois enfrentam problemas bem parecidos. Em geral, o boto consegue detectar melhor as redes do que as toninhas e se esquivar, mas os dois podem acabar morrendo por causa delas. Não há como descartar que tenham morrido pela pesca ilegal que ocorre aqui. Existem oportunistas que colocam redes na boca da barra, para a pesca de bagres, que está proibida. Cada vez que um golfinho ou boto desses morre, se compromete todo um sistema — afirma Moreno.
Vida em água salgada
Os dois animais encontrados integram o grupo dos cetáceos e vivem em água salgada. Segundo o pesquisador do Ceclimar, as toninhas preferem águas turvas e têm o bico mais comprido, tendo vários pequenos dentes na boca. Ela é de um grupo de golfinhos de rios que passou a se distribuir no ambiente aquático e se assemelha ao boto-cor-de-rosa. Costuma se alimentar de peixes menores, como curvina, e também come camarão e lula. Os únicos locais onde toninhas são encontradas é entre o Espírito Santo e o RS, além da Argentina e Uruguai.
Já os botos vivem em no sul do Brasil, e aparecem também na Argentina e no Uruguai. Eles são um pouco mais raros que as toninhas, segundo o professor. Costumam se alimentar de tainha, peixe-espada e curvina.