Banhistas de Capão da Canoa volta e meia são surpreendidos por pequenos e engajados patrulheiros. No conforto das cadeiras de praia, recebem de bom grado a abordagem de crianças e adolescentes de seis a 15 anos falando sobre a importância de manter a orla limpa, cuidados no mar e o significado das cores das bandeiras de salva-vidas.
Às vezes, enquanto escutam o sermão, os adultos recolhem, meio constrangidos, as latinhas e as cascas de milho que vão espalhando pela areia. É mais um ponto para o Patrulha do Mar, projeto desenvolvido pelo Corpo de Bombeiros de Porto Alegre e pela ONG capoense Ceacria, que procura ensinar noções de cidadania e primeiros socorros a crianças de famílias humildes da cidade - e multiplicar esse conhecimento entre os adultos.
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Quem vai seguido a Capão talvez já tenha se acostumado àquele pelotão de meninos e meninas uniformizados, municiados de panfletos educativos, andando em formação pela praia. Há 14 anos o programa ocupa 75 jovens durante as férias escolares. É como uma colônia de férias, mas com menos moleza e mais atividades instrutivas.
- É uma oportunidade para transmitir valores e cidadania a esses jovens, complementando o que aprendem em casa e nas escolas - afirma o sargento do Corpo de Bombeiros de Porto Alegre Everton Luiz Ribeiro Borba, responsável pelo projeto.
- E eles ainda levam o que aprendem às suas famílias e aos veranistas. Uma das atividades envolve a participação em outro projeto social dos bombeiros, o Salva-Vidas Mirim.
Semana passada, as crianças do Patrulha do Mar se uniram aos filhos de veranistas para aprender mais sobre cuidados no mar - com direito a maquetes na areia e instrução para o uso de boias. Os patrulheiros iam convencendo outras crianças que brincavam na orla a assistirem à palestra.
- Quando crianças vêm nos falar sobre cuidados com o mar, até prestamos mais a atenção - disse a veranista Carmen Teixeira dos Santos, 54 anos, que ficou toda orgulhosa ao ver o sobrinho de oito anos assistir às orientações dos salva-vidas.
Projeto esteve por um fio em 2016
Embora sejam a parte mais importante, os puxões de orelha nos adultos e as aulas sobre prevenção de acidentes e primeiros socorros não são as únicas atividades do programa. Há muita diversão. Diárias, as atividades são intercaladas com passeios. Uma vez por semana, a turma vai aos parques aquáticos do Litoral - nesta semana, a folia foi no Acqua Lokos. Uma semana antes, haviam conhecido as estruturas olímpicas do Grêmio Náutico União, em Porto Alegre, e treinado em aparelhos de ponta.
- São as férias mais legais que eu poderia ter - alegra-se Pedro Henrique Heinz, 13 anos, e há oito verões no projeto. - Se ficasse em casa no verão, estaria vendo TV ou procurando o que fazer na rua. Aqui, faço novos amigos e aprendo coisas novas.
Pedro diz que costumava dar trabalho às professoras. Conversava demais e aprontava na hora do recreio. Depois de participar de suas primeiras patrulhas, começou a se dar conta de que tinha de respeitar os mais velhos e levar mais a sério as lições.
- Percebemos que eles chegam meio sem atitude, sem noções de higiene ou trabalho em grupo. E saem completamente diferentes - relata o sargento Borba.
Como há muitos interessados pelo programa, é feita uma seleção. É necessário que a criança esteja na escola e que os pais trabalhem. A preferência de vagas é para quem se puxa nos estudos, o que motiva as crianças de colégios públicos de Capão a mergulharem nos livros durante o ano letivo.
Borba admite que neste ano a Patrulha quase não saiu: com o aperto no orçamento do governo do Estado e a dificuldade de remanejar o contingente dos bombeiros, o projeto esteve por um fio. Foi preciso muito esforço dos organizadores para conseguir as licenças para promover o projeto. O sargento ficou aliviado:
- Seria uma perda para as crianças, a comunidade e as praias.
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