
Chegar ao aeroporto uma ou duas horas antes da decolagem é uma prática bastante difundida e recomendada por viajantes. Uma nova trend desafia essa lógica, que preza pela gestão da imprevisibilidade de viagens de avião. Popular nos Estados Unidos e chegando aos poucos no Brasil, a "teoria do aeroporto" sugere que os passageiros cheguem 15 minutos antes do embarque para não perder tempo esperando.
No TikTok e no Instagram, usuários compartilham tentativas bem-sucedidas e falhas da teoria do aeroporto. Em alguns cenários, 15 minutos é o suficiente para chegar ao local, passar pelo raio X, comprovar documentos e embarcar, considerando que o check-in foi feito virtualmente e que não há necessidade de despachar bagagens. Em outros, o tempo é curto e a viagem é perdida.
Vale a pena testar a "teoria do aeroporto"?
Na avaliação de companhias aéreas e entidades do setor, a ideia é imprudente. "É importante alertar que procedimentos como despacho de bagagem, inspeção de raio-x, revista aleatória e checagem de documentos pela imigração podem levar mais tempo que o previsto a depender da movimentação do aeroporto, horário e dia do voo", escreveu, em nota, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear).
Fabricio Cardoso de Lima, diretor de operações aeroportuárias da Fraport Brasil, empresa responsável pela administração do Aeroporto Internacional Salgado Filho, pondera que, desde a chegada ao aeroporto até o embarque, há uma série de etapas demoradas:
— Mesmo que o passageiro chegue com o check-in já feito, ele tem que contar que pode ter alguma intercorrência para desembarcar do aplicativo ou estacionar o carro. Depois ele vai ter que se deslocar até a área de inspeção dos passageiros, o raio X, onde pode encontrar uma fila, principalmente nos horários pico. Além disso, é previsto pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) uma inspeção aleatória. Então ele vai ter que sentar, tirar o sapato, mostrar todos os seus itens, abrir a bolsa. Só aí já se foram os 15 minutos — explica.
Em Porto Alegre, os horários de pico costumam ser pelas manhãs, ao meio-dia e entre 18h e 23h.
Lima pontua que é importante pensar na estrutura e na movimentação do aeroporto. Na capital gaúcha e em outras grandes cidades brasileiras, os deslocamentos dentro do espaço, como do raio X até o portão de embarque normalmente, não são rápidos ou vazios.
— Contando que tudo vai estar correto, mesmo assim, eu acho muito arriscado esse tempo. Outro ponto é que as companhias têm autorização da Anac para fechar as portas da aeronave minutos antes do voo. Então, se está tudo bem e correndo no horário, têm aeronaves que fecham as portas até 10 minutos antes — acrescenta Lima.
Quanto tempo antes é recomendado chegar ao aeroporto?
A recomendação pode variar entre cada companhia aérea e, também, a depender do tipo de viagem — doméstica ou internacional. O diretor de operações aeroportuárias da Fraport Brasil defende que as empresas consideram o cenário mais demorado. Ou seja, de um passageiro que vai fazer o check-in presencialmente, vai despachar bagagem, vai ter algum problema com a documentação ou vai ter dificuldade para encontrar o portão de embarque, por exemplo.
— A orientação das companhias é a principal fonte de consulta. É importante que o passageiro, quando ele compra o bilhete, leia o que ele está comprando, porque nada mais é de uma relação comercial. É a mesma coisa que comprar um item numa loja e entregarem outra coisa, dá para reclamar. Então, quando a pessoa compra um bilhete, tem que saber o que está comprando, para saber os direitos que tem — afirma Lima.
Essas orientações estão disponíveis no site das companhias aéreas. Confira algumas:
- Latam Airlines: entre duas e três horas antes da partida do voo doméstico e entre três e quatro horas antes da partida do voo internacional
- Azul: pelo menos 1h30min de antecedência para voos domésticos e três horas para voos internacionais
- Gol: três horas de antes do voo caso precise despachar bagagem
O que acontece quando a "teoria do aeroporto" não dá certo?
Testar a "teoria do aeroporto" envolve riscos consideráveis. Entre os principais perigos estão o encerramento antecipado do check-in e do despacho de bagagens, especialmente em voos internacionais, além de imprevistos como filas na segurança, atrasos no trajeto até o aeroporto ou mudanças de portão de última hora. Tudo isso pode fazer com que o passageiro perca o voo.
"Cabe ressaltar que o passageiro que não se apresentar a tempo da partida do voo e não realizar o cancelamento da passagem poderá incorrer em no-show. Nesse caso, dependendo da política de cancelamento da empresa, poderá haver a cobrança de uma taxa de no-show, devendo esta possibilidade estar prevista no contrato da compra da passagem caso aplicada", explicou a Anac, em nota.
O órgão afirma que, dependendo da política da empresa, é possível remarcar a passagem não utilizada ou solicitar o reembolso do valor.
A Latam explica que as possibilidades de remarcação ou reembolso variam conforme a regra tarifária da passagem adquirida. "A Latam orienta que o cliente verifique as condições do seu bilhete e entre em contato com os canais oficiais da companhia para avaliar alternativas disponíveis", pontuou, em nota.
Em nota, a Gol informou que "quando ocorre de um cliente perder o voo pelo horário, é necessário que siga até a loja da Gol no aeroporto para verificar as regras tarifárias da sua passagem em relação a remarcação, cancelamentos e alterações."
Zero Hora entrou em contato com a Azul, que optou por não falar sobre o assunto.