
— Nunca vi nada — afirma Neri Onório Silva Dias, 77 anos, ao ser perguntado sobre a fama de Minas do Camaquã, local onde reside desde 1966, como ponto de observação de óvnis (objetos voadores não identificados).
Ex-trabalhador das minas de cobre do distrito que faz parte de Caçapava do Sul, ele atualmente reside na área rural, criando animais. Apesar de negar ter visto qualquer indício de extraterrestres, conta que já teve experiências que não consegue explicar:
— Já vi algumas vezes um fogo caindo do céu. Da minha casa mesmo. E não foi apenas uma nem duas vezes. É no formato de um pingo d'água, só que grande, com uma listrinha de fogo. Quando cai no chão, clareia tudo e some. Não fica nenhum resquício. De onde vem e o que é, eu não sei. Só sei que vem de cima. E muita gente aqui já viu. É um mistério.
Bom para os negócios
Para os ufólogos, esse tipo de fenômeno seria um prato cheio: uma história para abordar em palestras e atrair novos visitantes para vigílias em busca de óvnis. Mas para o septuagenário morador de Minas do Camaquã, este é só um causo para contar no mercadinho local.
O próprio dono do mercadinho, Erivelto Araujo Baltezan, 52, nascido e criado nas Minas do Camaquã, conta que já teve uma experiência inexplicável olhando para o céu. Na verdade, teria sido mais de uma vez. A última, há mais ou menos cinco anos.
— Já vi luzes ali perto da Pedra da Cruz (ponto de referência da região). Mais pessoas também viram. A gente nunca soube o que era. Parecia uma estrela, uma luz forte, que ficava parada, mas depois sumia atrás das pedras. Não é uma luz comum ali — diz o comerciante, que acha positivo que Minas do Camaquã seja um espaço que atraia curiosos da ufologia. — É bom para os negócios.

Turismo ufológico
A cerca de 300 quilômetros de Porto Alegre, Minas do Camaquã já contou com 5 mil moradores no seu auge. Décadas atrás, a Companhia Brasileira de Cobre minerava no local e o espaço foi desenvolvido para dar moradia aos trabalhadores da empresa — seu Neri era um deles.
Com o fim da mineração, nos anos 1990, o distrito foi perdendo habitantes devido à escassez de atividades econômicas no local. Hoje, são cerca de 300 residentes. Agora, além das belezas naturais, o turismo ufológico é um dos atrativos para ajudar a economia a girar.
Por lá, quem nunca presenciou um óvni cortando os céus conhece alguém que já teve a experiência. Um dos nomes mais citados pelos moradores é o da professora Iara Maria de Oliveira Pergher, 65, que vive no local há 14 anos. É dela um dos relatos que mais impressionam entusiastas em busca de evidências de vida fora da Terra.

Uma luz vermelha "monstruosa" no céu
Foi em 2013. Era uma noite de verão e, devido ao calor, ela levantou-se da cama de madrugada para tomar um ar — e um café. A pedagoga conta que, até então, era uma pessoa que precisava ver para crer. Então, algo surpreendente aconteceu.
— Naquela noite, abri a porta da cozinha e saí. Quando cheguei na rua, tomei um susto porque, se eu levantasse a minha mão, encostava nas estrelas. Elas estavam baixinhas, baixinhas. Me deu medo. Achei que estava dormindo ainda. Esfreguei os olhos e tomei um gole do meu café. Nada mudou. Quando olhei para o lado, onde tinha uma mata de eucalipto, simplesmente surgiu uma luz vermelha monstruosa no céu. Foi a primeira vez que tive contato com essas coisas extraterrestres — relata a professora.
De acordo com ela, o objeto voador estava sobrevoando um pouco acima das árvores e se movia lentamente. Apesar do impacto inicial, ela decidiu ficar onde estava, observando para onde aquela luz iria se dirigir.
O temor de Iara era que o objeto atingisse o solo e causasse uma explosão. Como mãe e professora, ela temia por si e pelos pequenos. Porém, aquele óvni seguiu voando, desaparecendo atrás de uma montanha.
Experiências compartilhadas
A educadora teve medo de compartilhar a experiência na escola onde dá aula — afinal, fazia menos de dois anos que estava lecionando no local. Era, ainda, uma forasteira. Preferiu o silêncio. Porém, durante uma conversa na sala dos professores, uma colega relatou que viu o mesmo fenômeno.
Pronto: Iara sentiu-se confiante para dizer que havia tido o mesmo avistamento. Algum tempo depois, ela presenciou outra luz, desta vez prateada, mas do mesmo tamanho daquela vermelha, monstruosa. O momento, diz ela, foi compartilhado por outros moradores do distrito, que estavam reunidos no CTG local.
Hoje, Iara, que precisava ver para crer, crê. E muito.

Portal dimensional
Em Minas do Camaquã, a ufologia já é um assunto presente no dia a dia. Os moradores falam sobre o tema com naturalidade.
Na estrada que leva para o distrito, a RS-625, existe uma placa de sinalização com um disco voador. É um alerta de que, ao final daqueles 25 km de chão de terra, o viajante encontrará um local repleto de teorias e histórias sobre extraterrestres.
Se o mundo ufológico remete à tecnologia, com naves ultramodernas atravessando galáxias para visitar a Terra, um grupo de pessoas acredita que os avistamentos em Minas do Camaquã têm uma explicação diferente: para eles, os seres que aparecem pela região chegam através de um portal dimensional que existe no distrito. E tudo tem relação com o espiritismo.
Quem são os seres arcturianos

Guacira Pavão, 66, é presidente e cofundadora da Sociedade Espírita Caminho da Luz, instalada nas terras da pousada Bellamina, da qual é proprietária, ao lado do marido, Luiz Paulo Pavão, 73, ex-trabalhador da Companhia Brasileira de Cobre. A instituição foi fundada em 1992 e vinculada à Federação Espírita Brasileira no ano seguinte.
De acordo com Guacira, os avistamentos são, na verdade, seres que estão em uma escala evolutiva espiritual maior que a dos humanos, vivendo em outros planetas e dimensões.
Entre os visitantes, segundo ela, estão os arcturianos, que supostamente habitam o sistema estelar Arcturus e ajudam civilizações a evoluírem espiritualmente. A presidente da Caminho da Luz afirma que o médium Chico Xavier (1910-2002) teve contato com esses viajantes estelares.
— O propósito destes seres, que recebemos aqui, é despertar as pessoas para a verdadeira vida. A vida não termina com o corpo, é contínua. Então, o ser vai para a evolução. Os arcturianos estão apenas ajudando para que a gente não se destrua. Para que o povo aprenda que sem amor, sem caridade, você não vai a lugar nenhum. E você entra na roda de Samsara, em que encarna, reencarna, encarna, reencarna, até conseguir atingir uma evolução. Quem desencarna, quem morre no corpo físico, a maioria já não reencarna mais no planeta Terra — crê Guacira.
Cidade fantasma?

Já a dona do bazar Treko's, Gledi Maria Machado, 85, que vive em Minas do Camaquã desde 1965, não acredita em nada que venha do espaço ou de outra dimensão. Sua crença é em Deus. Porém, destaca que no distrito existe uma energia diferente. Quando está cansada, sai para dar uma caminhada pelas ruas pouco movimentadas e observa a exuberância da natureza:
— Depois de um passeio, volto uma outra pessoa. Tem uma energia muito positiva aqui. É um lugar privilegiado. Se tem uma coisa de que eu não gosto é quando dizem que Minas do Camaquã é uma cidade fantasma. Não tem nada de fantasma aqui. Eu estou aqui. E estou viva.
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