
Um jogo com diversas peças diferentes que devem ser encaixadas corretamente para formar uma figura. Assim pode ser definido o quebra-cabeça, brincadeira que surgiu na metade dos anos 1700 e segue entretendo crianças e adultos por horas a fio.
Durante a pandemia de covid-19, a atividade voltou a fazer parte da rotina de muitas pessoas. Foi o caso da influenciadora Marina Smith, que retomou o hábito de infância em 2020 — e o mantém até hoje — para ajudar a distrair e passar o tempo.
Mais recentemente, o jogo também ganhou novos adeptos devido ao Big Brother Brasil 2025. O programa incluiu a brincadeira em uma dinâmica chamada “Barrado no Baile”, onde um participante é escolhido para ficar de fora da festa do líder da semana.
Em um quarto isolado, a pessoa indicada precisava montar um quebra-cabeça de 300 peças para poder se reunir aos demais. A atriz gaúcha Vitória Strada foi uma das sisters que conseguiu completar a atividade e voltar para a festa.
Aos outros participantes, a atriz revelou que sua avó tinha o hábito de montar quebra-cabeças de 2 mil peças e que costumava separá-las por cores para facilitar o processo. Vitória usou essa mesma estratégia para concluir o jogo em três horas.
Na visão de especialistas, a brincadeira é interessante por trabalhar questões emocionais, como a memória afetiva, e cognitivas, como o raciocínio espacial.
Inspiração no BBB 25
Foi após acompanhar o desempenho dos participantes do BBB 25 na dinâmica do quebra-cabeça que a personal trainer Bruna Rodrigues, 30 anos, decidiu comprar um jogo de 1,5 mil peças. O objetivo, segundo a moradora de Sapucaia do Sul, era ter alguma atividade para desenvolver em família e “largar um pouco o celular”.
— Decidimos comprar um quebra-cabeça, porque pensamos: “se no Big Brother os participantes conseguiram montar, a gente também consegue”. Só que acabamos comprando um de 1,5 mil peças, achando que ia ser fácil de montar e não foi — diverte-se Bruna.
A personal trainer conta que ninguém da família — os pais, o irmão e o marido — tinha o hábito de montar quebra-cabeças, por isso, tem sido um desafio. A “saga do quebra-cabeça”, como chama, começou logo após a compra, na mesa da casa dos pais, em São Leopoldo.
Ao menos duas vezes por semana, a família se reúne para continuar a montagem, cujo processo já dura quase um mês:
— Foi todo mundo se empenhando, todo mundo fica ali na volta da mesa para montar. Só que a gente achou que era coisa de uma semana para montar. Que nada! Vai fazer um mês que a gente comprou. Ele é bem difícil, bem confuso, as peças são muito coloridas. Mas todo dia a gente tenta montar um pouquinho.
Montar quebra-cabeça é momento em família
Na avaliação de Bruna, o jogo permitiu que eles tivessem um momento “bem família”. Também fez com que todos deixassem o celular de lado durante as horas em que estão juntos. Apesar de algumas discussões sobre o local correto de cada peça, a personal trainer garante que o processo tem sido muito divertido.
— Até comentamos que, quando a gente terminar esse quebra-cabeça, vamos colocar como hábito uma vez por mês comprar um jogo ou outros quebra-cabeças e ter esse momento todo mundo junto para interagir melhor. Hoje, como o telefone afasta muito a gente, é uma maneira bem divertida de todo mundo ficar empenhado no mesmo objetivo — destaca Bruna, acrescentando que a ideia é emoldurar essa primeira imagem após a conclusão da montagem.
Hoje, como o telefone afasta muito a gente, é uma maneira bem divertida de todo mundo ficar empenhado no mesmo objetivo
BRUNA RODRIGUES, PERSONAL TRAINER
Entretenimento na pandemia
Já a influenciadora Marina Smith redescobriu o amor pelos quebra-cabeças na pandemia. A gaúcha relata que gostava muito do jogo quando era criança, mas “superou” o hábito depois que cresceu. Em 2020, voltou a montar peças para passar o tempo.
— Acho que todo domingo, durante a pandemia, eu montava pelo menos um quebra-cabeça. Eu comecei com os de 500 peças e, até hoje, são os que eu prefiro montar. Às vezes, monto de mil também, mas acima de mil não, porque já começa a me estressar se começa a demorar. Gosto de montar um que seja difícil, mas não muito — brinca.
Marina afirma que já montou maiores, mas ressalta que não gosta quando a atividade se estende por semanas. Tem em casa um de 6 mil peças que até hoje ainda não abriu, por exemplo. Prefere os de 500, comenta, porque não demoram muito tempo. Dependendo do tamanho e da dificuldade, a influenciadora até consegue concluir uma figura em um dia.
Para facilitar o processo, Marina conta com a ajuda de um suporte de isopor, que pode carregar pelos cômodos do apartamento onde mora em Porto Alegre:
— Esses de 500 peças nano (bem pequenos), às vezes eu consigo montar em um dia, se eu focar mesmo. Se eu já estiver mais relax, aí começo um pouquinho em um domingo, termino no outro, e por aí vai. Porque é para relaxar, né?
Os quebra-cabeças preferidos da Marina
Em seu perfil no Instagram, a influenciadora costuma compartilhar o processo de montagem com os seguidores. A gaúcha conta que já ganhou alguns de presente, mas tem o hábito de comprar quando aparecem promoções. No escritório, tem três quebra-cabeças enquadrados — são alguns dos seus preferidos.
Para Marina, a montagem também é um momento de desconectar das telas, seja do celular ou da televisão.
— É uma hora de focar em uma coisa que não seja uma tela, meio que desligar a cabeça e só ficar ali procurando a pecinha que encaixa. É bem relaxante, é desligar de tudo e focar em uma coisa só — enfatiza.
De acordo com a influenciadora, quanto mais cores e mais desenhos separados por blocos a figura do quebra-cabeça tiver, mais fácil será a montagem. Também compartilha algumas dicas:
- Primeiro, separe as bordas do desenho
- Monte as bordas
- Dependendo do desenho, também é importante separar por cor
- Se os desenhos forem bem delimitados, tente separar as peças de cada figura, como um prédio, um carro ou uma árvore
- Vá montando essas figuras mais delimitadas primeiro
- Depois, tente ir juntando as figuras já montadas
É uma hora de focar em uma coisa que não seja uma tela, meio que desligar a cabeça e só ficar ali procurando a pecinha que encaixa. É bem relaxante, é desligar de tudo e focar em uma coisa só
MARINA SMITH, INFLUENCIADORA
Benefícios de montar quebra-cabeças
Raphael Castilhos, médico neurologista do Hospital de Clínica de Porto Alegre (HCPA) e professor do Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma que não existe comprovação de que especificamente o ato de montar quebra-cabeças traga benefícios para a cognição.
Entretanto, aponta que jogos de montagem e de raciocínio são algumas das possíveis formas de estímulo cognitivo — que é algo muito importante.
Conforme o especialista, a atividade também pode ser benéfica se for utilizada como um recurso para ficar longe das telas e como um estímulo para interação social.
— Se a pessoa gosta de montar quebra-cabeças, isso vai ser algo interessante, talvez seja um estímulo cognitivo junto de outras medidas para que se evite uma perda cognitiva. E grandes quebra-cabeças não montamos sozinhos, montamos com outras pessoas. Então, tem essa coisa de reunir a família, que é um tipo de benefício também — destaca.
Estratégias
A psicóloga clínica Scheila Mara Fogaça Moretto, que é membro da Comissão de Avaliação Psicológica do Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRPRS), acrescenta que o quebra-cabeça trabalha muitas questões emocionais e cognitivas. Isso porque envolve três áreas das nove inteligências múltiplas: a capacidade de inteligência espacial, da corporal sinestésica e da lógica matemática.
Além disso, faz com que a pessoa trace estratégias para desempenhar a tarefa:
— Então, vai trabalhar com a flexibilidade cognitiva de poder pensar formas diferentes de agir: “montei uma estratégia, mas isso aqui não está funcionando muito bem, então vou passar para outra”. No exemplo da Vitória Strada, que usou as dicas que a avó ensinou, tem um lado afetivo também, de lembrar quando os pais ou avós brincavam de montar quebra-cabeças.
As estratégias utilizadas na montagem da figura também se relacionam com o raciocínio espacial, quando a pessoa precisa pensar em como organizar as peças.
Scheila afirma que o jogo trabalha ainda a tolerância e a frustração, bem como a capacidade de concentração. Reforça que os jogos de tabuleiro agregam o grupo familiar.
— Faz com que saia daquela coisa de cada um fazer uma coisa e ninguém trocar ideias, porque quando a pessoa está em família montando um quebra-cabeça ou jogando algum jogo de tabuleiro, ela está jogando com aquele grupo. E o quebra-cabeça é cooperativo, todos vão buscar a conclusão da figura e todos ficarão felizes quando terminar. Todos ganham — salienta a psicóloga.
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