
Unidas pela missão comum de fazer a diferença em seus respectivos territórios, 33 mulheres de oito cidades gaúchas concluíram, na tarde desta sexta-feira (21), o curso de Atuação em Emergências Climáticas promovido pela ONG Themis - Gênero, Justiça e Direitos Humanos. A cerimônia foi realizada na Câmara Municipal de Porto Alegre.
A formação teve início em agosto do ano passado, visando fortalecer a atuação das mulheres nos contextos de crise climática. A partir das aulas, que se seguiram até fevereiro, as participantes aprofundaram conhecimentos sobre justiça climática e desenvolveram um protocolo de ação adaptado às realidades de seus territórios.
O grupo de formandas é composto por líderes comunitárias que atuaram no combate à enchente, mas, em sua maioria, também sofreram com a tragédia climática. É o caso da agente cultural, poetisa e ativista dos movimentos feministas Rita Beatriz Santos Portela, 41 anos.
Ela trabalhou em prol dos atingidos pela enchente em São Leopoldo, na Região Metropolitana, enquanto também via a água tomar conta da sua residência. A formanda deixou a casa onde morava com o filho Vicenzo, de 11 anos, que está no espectro autista, mas permaneceu atuando como voluntária na cidade, focando seus esforços na proteção de mulheres e famílias atípicas.

Para Rita, fazer parte do curso promovido pela Themis foi uma oportunidade de conhecer mulheres que passaram pelas mesmas dificuldades e, como ela, também reuniram forças para seguir lutando em prol da comunidade.
— Esse tema da crise climática sempre me interessou, mas fazer parte de um curso sobre isso, sendo alguém que atua na reconstrução e também foi atingida, tornou o processo muito emocionante. Além de todo o aprendizado, acabou sendo um espaço de fortalecimento, porque todas nós estávamos enfrentando situações parecidas — conta.
A maior parte das participantes, incluindo Rita, são lideranças comunitárias já formadas pelo curso de Promotoras Legais Populares (PLP's). A formação é oferecida também pela Themis e, desde 1993, habilita mulheres para atuarem na promoção e na defesa dos direitos de suas iguais em seus respectivos territórios.
Agora, elas também terão qualificação para agir de forma orientada em situações de crise climática. Algo que a formanda Loreni de Goes, 53 anos, considera fundamental.
— A enchente nos mostrou como a prevenção e o planejamento são importantes para se evitar tragédias climáticas. Mas descobrimos isso da pior forma, porque percebemos que as cidades não tinham planos de contingência eficazes — observa Loreni, que trabalha como conselheira tutelar em São Leopoldo.

— No curso, nós aprendemos quais são os protocolos que devem ser adotados e como podemos atuar nas nossas comunidades. A ideia é que sejamos multiplicadoras desses conhecimentos — completa ela, que também teve a casa atingida pela água.
Na formatura desta sexta-feira, Loreni não conseguiu segurar as lágrimas quando foi chamada para receber o diploma. A conselheira tutelar ficou emocionada por lembrar do período da enchente e do acolhimento que encontrou junto às colegas do curso:
— Como conselheira tutelar, eu precisava estar bem. Mas na verdade eu não estava bem, a minha casa estava embaixo d'água. Era um momento em que eu não me permitia sofrer. Esse curso veio como um acalento, um abraço em meio a tudo o que estava acontecendo.
Quem também se emocionou com a ocasião da formatura foi Maria Heloísa Martins da Rosa, 63 anos, de Pelotas. Mestre em antropologia pela Ufpel, poetisa e educadora popular, Helô, como prefere ser chamada, foi uma das oradoras da turma de formandas.
Em seu discurso, defendeu a importância de um protocolo específico para a proteção das mulheres em situações de emergência climática.

À época da enchente, como integrante do Grupo Autônomo de Mulheres de Pelotas, a formanda já havia ajudado a formular um plano de ação focado no público feminino afetado pela catástrofe na cidade.
No curso, ela pôde ampliar os aprendizados e compartilhar experiências com as colegas.
— A crise climática está posta, e precisamos estar preparados para lidar com ela. Isso inclui um olhar diferenciado para as mulheres, que ficam ainda mais vulneráveis à situações de violência — diz Helô.
O curso de foi Atuação em Emergências Climáticas foi idealizado pela Themis com apoio do Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Sul, Care, Igual Valor, Iguais Direitos, Womanity, Instituto Ibirapitanga, Cummins, Global Fund for Women, Fundação Ford, Embaixada dos Países Baixos, UniRitter e Defensoria Pública do RS.