Pessoas com deficiência visual e auditiva experienciaram Porto Alegre de uma forma diferente na manhã deste sábado (15). Uma edição piloto do roteiro acessível da Linha Turismo, em parceria com o Festival Olhe Pra Cima, contou com audiodescrição e tradução em Língua Brasileira de Sinais (Libras).
A iniciativa tem como objetivo promover a inclusão e o acesso à cultura.
De um lado do ônibus turístico, uma audiodescritora narrava com detalhes os murais do festival. Cores, formas geométricas e os elementos que compõem as pinturas eram traduzidos em palavras para pessoas com deficiência visual. Do outro lado, intérpretes de Libras tornavam o conteúdo acessível para pessoas com deficiência auditiva.
— É maravilhoso poder imaginar e ver, através da audiodescrição, poder dar sentido às obras. Estou conseguindo fazer a construção mental das imagens. A audiodescrição favorece que a gente faça esse reconhecimento — relatou Bruna Schatschineider, consultora em acessibilidade e pessoa com deficiência visual.
O passeio teve início na Casa de Cultura Mário Quintana, às 10h, e terminou no Cais do Porto, por volta de 12h. O trajeto passou pelos murais espalhados pelo Centro Histórico e pela Cidade Baixa.
Nos intervalos da audiodescrição, um guia turístico contava trechos da história de Porto Alegre. Com direito ao hino do Grêmio e do Internacional, uma seleção de músicas animava os passageiros.
Lucas Bourscheid, consultor de Libras e pessoa com deficiência auditiva, estava empolgado com o seu primeiro passeio turístico acessível:
— É muito legal e muito importante para as pessoas. A comunidade surda, em si, não conhece esse movimento, esse muralismo, porque não tem acessibilidade dentro disso. É só para o ouvinte, para o surdo, não. Mas o turismo guiado com acessibilidade consegue chamar e movimentar a comunidade surda para conhecer um pouco mais de Porto Alegre. A gente está superfeliz com isso — afirmou Bourscheid, com interpretação de Rosa Maria Casara.
Do lado de fora do ônibus, era possível ver turistas sorridentes, fazendo registros com os celulares. Dentro do veículo, que tem o teto transparente e as laterais abertas, quase todos os bancos estavam ocupados. Os passageiros comentavam sobre as obras que viam e ouviam pelo caminho. Vinicius Amorim, idealizador do projeto Olhe Pra Cima, servia bebidas para refrescar.
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— O projeto, na realidade, foi idealizado para democratizar o acesso à arte para as pessoas. E, no meio desse caminho, a gente se deu conta de que a gente não estava contemplando todos os públicos. A ideia foi justamente implementar a audiodescrição para agora poder falar que o nosso projeto é 100% democrático — justifica Amorim.
A edição piloto contou com a presença de mais de 30 convidados. A previsão é de que, no futuro, o roteiro acessível passe a integrar o portfólio do Linha Turismo regularmente.