De volta ao Rio Grande do Sul, conforme dom Jaime Cardeal Spengler avançava pelo corredor central da Catedral Metropolitana de Porto Alegre, todos que o aguardavam para sua primeira missa após o consistório se levantaram e o aplaudiram. Nesta terça-feira (17), o catarinense presidiu sua primeira celebração como cardeal. O acolhimento reuniu fiéis e foi testemunhado por bispos de todas as dioceses do Rio Grande do Sul, centenas de padres e autoridades locais.
— Vim só para homenageá-lo. Admiro demais ele. O dom Jaime é um homem simples, fiquei muito feliz que ele foi criado cardeal. Ele é catarinense que nem eu — disse a aposentada Vilma Marlene Bof, 83 anos, que sorria emocionada enquanto ele passava pelo banco em que estava sentada.
Seguindo todos os ritos tradicionais, a missa de acolhida durou quase uma hora e meia. Entre cantos e aplausos, os presentes faziam fotos e vídeos da celebração, marcando a presença do arcebispo metropolitano de Porto Alegre. Os fiéis se mantiveram atentos até quando houve uma queda de luz e dom Jaime precisou fazer parte do sermão sem a ajuda do microfone.
Ao final, um representante do presbítero da Arquidiocese de Porto Alegre felicitou dom Jaime, criado cardeal no consistório do dia 7 de dezembro no Vaticano, pelo novo cargo. Os bispos das 18 dioceses do Estado também parabenizaram o colega e deram conselhos para a nova missão.
Nova missão
Antes da celebração, em coletiva de imprensa, o arcebispo metropolitano de Porto Alegre confessou que espera conseguir continuar na função que desde 2013 exerce, ajudando o Rio Grande do Sul, por mais uns 10 anos. Ele acredita que, com o novo cargo, o cansaço pode o visitar mais vezes, mas afirmou estar preparado.
— É verdade que a vida hoje está um pouco acelerada. Mas eu tenho que agradecer e agradeço aos bispos auxiliares que a igreja me deu. Eu creio que, com a cooperação deles, e do clero como um todo, nós vamos levando adiante aquilo que podemos. Às vezes, bate um certo cansaço. Quando gostamos do que somos e amamos o que fazemos, cansamos, sim, mas é um cansaço que não esgota. É o que me faz avançar.
Além de continuar articulando a gestão compartilhada com os outros membros da Arquidiocese de Porto Alegre, dom Jaime passa, agora, a assistir o papa Francisco em diversas competências. Ele, inclusive, poderá participar de um futuro conclave como eleitor e contribuir para a escolha de um novo papa, se necessário.
O único brasileiro da lista de 21 cardeais criados neste mês também citou alguns dos desafios que percebe que a Igreja Católica enfrenta. Um deles é a transmissão da fé às novas gerações por meio de uma linguagem adequada, considerando a força da internet e dos conteúdos digitais.
— E o papa Francisco usa uma expressão muito bonita, se eu não me engano, ele repete de Bento XVI, que é que a fé a gente entrega na mão. Isto é no relacionamento, é na proximidade, é no diálogo, é no olho a olho, no encontro pessoa a pessoa.
O novo cardeal falou sobre o legado de dom Vicente Scherer, último arcebispo de Porto Alegre a ser escolhido para a mesma função, e que espera que sua marca seja promover a evangelização no Rio Grande do Sul.