Um salto de 800 para cerca de 450 mil. Esse é o aumento na produção em litros de azeite de oliva registrado no Rio Grande do Sul entre 2010 e 2022, de acordo com dados da Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural.
A diferença faz do Estado o responsável por 75% da produção nacional, conforme o Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva). Em 2010, a área plantada de olivais foi de 80 hectares e, em 2021, chegou a quase 6 mil.
Os bons indicadores fizeram o executivo estadual criar, em 2019, a Rota das Oliveiras, composta por 39 municípios de diversas regiões do Estado, como uma forma de destacar o setor e atrair turistas.
Os números mostram um setor em expansão e que é capaz de produzir azeites premiados em concursos internacionais. No entanto, o olivoturismo ainda dá os primeiros passos e precisa de investimentos e atenção das empresas, de acordo com Amanda Paim, coordenadora dos projetos de Turismo e Economia Criativa do Sebrae-RS.
Para ela, este é o principal desafio do setor: criar estratégias para atrair a atenção de mais turistas, de forma permanente, paras as propriedades gaúchas.
— Temos ótimos azeites, mas falta uma experiência disponível o ano todo. As propriedades não estão estruturadas para receber o turista, porque o turista não é o principal público delas hoje. Elas não têm estratégias para atraí-los, não é a prioridade. Então, precisamos criar essa experiência, motivar as pessoas e desenvolver ainda mais a oferta turística — comenta.
Amanda diz que o mercado do vinho pode ser o exemplo para o setor do azeite de oliva. O ambiente de negócios em torno da bebida não começou com a estrutura que tem hoje, em diversos municípios gaúchos, com turistas interessados em visitar as vinícolas e consumir produtos relacionados.
Esse cenário se desenvolveu nas últimas décadas, pouco a pouco, conforme Amanda. Por isso, hoje, o Estado é destaque na produção e no turismo relacionado ao vinho e é capaz atrair turistas de todo o mundo durante todo o ano, com infraestrutura capaz de suportar diferentes públicos.
— Precisamos avançar na qualificação do conjunto, com informações acessíveis, fáceis. Os hotéis têm que servir os produtos, agências têm que ter estratégias, porque há uma cadeia de turismo que desconhece o azeite, que não tem informações porque é um setor incipiente. Estamos em um processo para receber mais turistas, em mais cidades, durante todo o ano. A empresas precisam investir nisso — comenta.
Aumento da produção
Conforme Renato Fernandes, presidente do Ibraoliva, a localização do Estado, a posição solar e o clima são alguns dos pontos favoráveis às oliveiras, e que ajudam a explicar o aumento da produção nos últimos anos.
— (Na Europa) as condições climáticas são muito semelhantes ao que temos aqui no Estado. Os elementos de frio no inverno e calor no verão são os que uma oliveira precisa para ser frutífera — explica.
O especialista entende que o crescimento verificado ocorre apenas hoje porque, no passado, o setor não recebeu incentivos, não foram feitos avanços nos estudos para a produção e faltou apoio do poder público. No entanto, neste momento, empresários já têm investido na indústria, que também tem recebido atenção do poder público. Esse cenário é capaz de gerar bons resultados, ainda que em poucos anos, ele avalia:
— Nós escolhemos fazer o azeite premium, da safra nova, da fruta não tão maturada, o que traz uma qualidade maior. Os importados não são feitos dessa forma. A Europa tem azeite extravirgem, mas lá eles fazem uma colheita mais madura, o que dá um azeite com menos propriedades do que o nosso — explica.
A expansão do setor foi um dos motivos para o presidente do Ibraoliva abrir, em 2021, a Pousada Olival Vila do Segredo em Caçapava do Sul. A propriedade é uma das iniciativas que busca fortalecer o olivoturismo, a área do turismo que se dedica a ofertar aos visitantes informações sobre o cultivo das oliveiras, a produção das azeitonas, a elaboração e degustação dos azeites extravirgens.
Assim, o empreendimento busca dar, além da acomodação, opções de passeios a pontos turísticos da região que envolvem o produto de forma direta ou indireta. Fernandes estima que olivoturismo no Estado tenha recebido 500 mil turistas em 2021, e a expectativa é que esse número cresça nos próximos anos.
— Exploramos a experiência gastronômica, de qualidade de vida do azeite dentro da propriedade, algo que as vinícolas fazem com o vinho. Muitos investimentos estão sendo realizados. Temos recebido pessoas de outros países e estamos alcançando as regiões mais distantes do Brasil. É um novo modelo de turismo — comenta.
Azeite premiado
A Prosperato é um dos principais nomes do país no setor. A empresa com sede em Caçapava do Sul produz azeites desde 2013 e já recebeu centenas de prêmios nacionais e internacionais desde 2016, quando começou a disputar as competições. A empresa é um braço da Tecnoplanta, que atua no ramo de produção de mudas florestais.
Na primeira safra, em 2013, a Prosperato produziu 3 mil litros de azeite de oliva; neste ano, a produção foi de 70 mil litros. De acordo com Rafael Marchetti, diretor da empresa, o azeite feito no Estado apresenta características que fazem com que os produtos consigam ter espaço no mercado nacional, mesmo que, por vezes, seja mais caro.
— A produção (de azeita de oliva) é pequena no Brasil. Então temos de fazer com que a fruta dê o melhor azeite possível. Por isso, conseguimos controlar bem a qualidade do produto. É diferente da Europa, que tem muita produção de azeites com diferentes níveis de qualidade — comenta.
Marchetti diz entender que a expansão do setor gaúcho está apenas no começo. Além da busca pela qualidade da produção, outras situações podem ajudar nos negócios para o público interno: a proximidade do cliente, que receberá um produto que não precisa "viajar" de um continente para o outro, o fato de ser um azeite local, o que atrai consumidores, e também o interesse de o comprador provar produtos que até então não estavam disponíveis no mercado nacional.
— Normalmente, os azeites de menor qualidade vêm para o Brasil, e não há contato com o azeite de boa qualidade e fresco. Recebíamos, e ainda recebemos, produtos ruins, mas antes não tínhamos parâmetros para avaliar se o azeite de fora era bom ou ruim, porque ele era a única opção. Agora temos — assegura.
O empresário diz que essa "demora" na expansão do setor no Estado permitiu que o produto gaúcho apresentasse uma característica diferente de outros, como, por exemplo, o vinho, a cachaça e cerveja:
— Esses produtos são produzidos há muito tempo e não começaram a ser feitos com uma alta qualidade. (A produção) do azeite ter começado agora, e não há 100 anos, nos permitiu o acesso a maquinários modernos e tecnologias de extração que possibilitam essa qualidade superior do produto, que, desde o começo, é produzido assim.