Reza a tradição religiosa que a macela — ou marcela — colhida antes do amanhecer da Sexta-Feira Santa e coberta com orvalho tem fins milagrosos. A crença faz milhares de fiéis levantarem cedo para sair em busca da erva, uma das mais conhecidas dos gaúchos e também a mais usada para fins medicinais no Rio Grande do Sul. Seu chá é usado como remédio para problemas gástricos ou respiratórios.
Mas como manter de forma adequada a macela colhida (geralmente em quantidade!) nesta Sexta-Feira Santa? É preciso alguns cuidados.
Antes de armazenar, a orientação é que a planta não seja colhida na beira da estrada, em razão do contato com fuligem e metais pesados dos automóveis. Procure locais afastados da poluição.
A tradição ensina a colher no amanhecer, mas a umidade do orvalho tem de ser considerada ao guardar a Achyrocline satureioides, nome científico da planta. Para secar, preferencialmente coloque sobre uma bandeja ou tela, em ambiente arejado e escuro. Quem prefere secar as flores, pendurando o ramalhete, deve ter o cuidado com a poeira, luz e umidade do ambiente.
Guarde em um pote de vidro, em local escuro, pois a luminosidade degrada os princípios ativos da planta. Se optar por embalar em papel, coloque dentro de um plástico ou pote de vidro para ficar bem vedado. Se quiser plantar, utilize o pó escuro que fica no fundo do vidro, que são as sementes da macela. Para cultivar, a planta precisa de luz. Basta preparar a terra, espalhar as sementes e compactar levemente o solo.
Planta medicinal
A macela tem uso popular consagrado. A planta medicinal símbolo do Rio Grande do Sul é nativa e é utilizada pelos índios há séculos. Estudos apontam benefícios para distúrbios digestivos e efeito calmante, auxiliando no controle da ansiedade e insônia. É ainda rica em flavonoides, que têm ação antioxidante e anti-inflamatória.
Sua importância é mostrada também pela relevância na área da saúde. Em pesquisa do Projeto Arranjo Produtivo Local (APL) PM Fito RS, a macela aparece como a planta medicinal mais usada pela população no Estado, liderando a lista da Relação Estadual de Plantas Medicinais Nativas mais Utilizadas pela População do Rio Grande Do Sul (Replame/RS), além de constar da Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao Sistema Único de Saúde (Renisus).
Fonte: Gervásio Paulus, assistente técnico estadual da Emater em olericultura, agroecologia e plantas bioativas