Por volta das 6h desta quinta-feira (10), começou uma forte movimentação de militares na Rua dos Andradas, no Centro Histórico, em Porto Alegre. A chuva fina atrapalhou, mas não impediu o trabalho de deslocamento do blindado Renault FT-17, o primeiro a ser incorporado ao Exército Brasileiro em 1921, de cima do caminhão para o hall de entrada do Museu Militar do Comando Militar do Sul (MMCMS). A vinda do tanque de guerra para o local finaliza mais uma etapa de revitalização do museu. Além disso, o prédio passa por reformas estruturais, teve a pintura externa e interna refeita para que possa ser reinaugurado com uma nova roupagem — e recheado de novas atrações — no dia 5 de julho.
Fruto de uma criação francesa, o Renault FT-17 desembarcou no Brasil em maio de 1921. E ele veio parar aqui porque o capitão José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque estava na França no período da Primeira Guerra Mundial e foi apresentado ao blindado. Ao chegar no território brasileiro, ele apresentou um projeto de modernização ao Exército — que tinha como carro-chefe o Renault FT-17 — e a ideia foi comprada, conta o coronel Ilio, diretor do Museu Militar:
— No total, 12 blindados desembarcaram no Rio de Janeiro e chegaram a ser usados aqui no Brasil, principalmente, na Revolução (Constitucionalista) de 1932. Esse modelo foi muito importante porque além de ser o primeiro a ser usado por nós, ele possibilitou o aprimoramento dos outros blindados que usamos ao longo da nossa história.
Para celebrar os cem anos da chegada dos blindados no Brasil e complementar a revitalização do museu do Comando Militar do Sul, foi realizado o restauro deste equipamento, diz o coronel Ilio.
— No Centro de Instrução de Blindados, de Santa Maria, o equipamento original foi completamente reformado. Foi um trabalho de dois meses. Ele estava com a coloração verde, que é a usada no Brasil, mas foi pintado novamente com sua cor original, que é o marrom. Por isso, ele é diferente dos outros blindados da exposição — afirma.
Com espaço para duas pessoas — o motorista e o combatente — o tanque blindado causou um certo furor na Primeira Guerra Mundial, justamente, por ser menor do que os outros modelos em uso, possibilitar uma mobilidade maior e mais rápida no reconhecimento do terreno. Outro ponto que chamou a atenção na época era a torre que dava sustentação ao armamento, que tem rotação de 360°.
Preparativos para a reinauguração do museu
A fachada de cores desbotadas deu lugar ao branco renovado com detalhes em terracota nas aberturas e pilares do prédio que teve sua construção finalizada em 1867. O museu, que está instalado no antigo prédio do Arsenal de Guerra do Estado, foi totalmente reformado com a troca de piso, do telhado, criação de novos espaços expositores e modernização dos ambientes — com totens digitais, painéis interativos para se tirar fotos, entre outros.
O acervo apresenta diversos armamentos de uso individual e coletivo, canhões, viaturas blindadas — sobre rodas e também sobre as chamadas lagartas —, que são aquelas com correntes. Na parte interna, foram criadas galerias que, aos poucos, transformam-se em espaços de exposição.
Há uma dedicada às crianças com diversos itens educativos sobre a história dos tanques e cavalos em madeira para que os pequenos possam subir e tirar fotos, como se fizessem parte da cavalaria, além de explicações sobre as escolas militares. Um segundo espaço contará a história do prédio por meio de painéis e alguns objetos, como uma mesa da construção original de 1867.
A terceira galeria levará os visitantes à atuação em combate, visto que trincheiras e fortes foram montados para que o público possa ver como eram as estruturas das guerras de antigamente e também interagir, já que será possível tirar fotos nesses cenários. Ao longo de um extenso corredor, é mostrada a evolução das carruagens usadas nos conflitos para carregar os equipamentos e suprimentos necessários até a chegada dos blindados.
Ainda será contado, por meio de painéis e objetos, o avanço nas tecnologias de comunicação usadas pela corporação, o mesmo vale para a trajetória dos profissionais da saúde do Exército, bem como será exposta uma réplica de um balão usado pelo Duque de Caxias na Guerra do Paraguai e serão mostradas as armas usadas pelos combatentes, entre outras atrações.
De acordo com o diretor do Museu Militar, a reforma teve um investimento de R$ 2 milhões e grande parte dos serviços é feita pelos próprios militares.
De Arsenal de Guerra a Museu Militar
Essa trajetória começa séculos atrás, ainda no Brasil colonial. Com a transferência da Corte Portuguesa para o território brasileiro, em 1808, criou-se a necessidade de ampliar o sistema de defesa da colônia com mais armas e munições. Em razão dessa demanda, foi construída a Casa do Trem do Rio de Janeiro. A estrutura desse arsenal, que na época era chamado de Trem, foi replicada em outras partes do Brasil, inclusive aqui em Porto Alegre.
Na Capital, os Armazéns Reais, edificados entre os anos de 1774 e 1777, estavam localizados junto ao Guaíba, e funcionaram como uma espécie de embrião para o futuro Arsenal de Guerra. Nesses armazéns, eram guardados os materiais destinados à manutenção da tropa no que tange, além de armamento e munição, o transporte, o fardamento, a subsistência da tropa entre outros. Outra função dessas estruturas, geralmente composta por um conjunto de edifícios, era abrigar as oficinas destinadas ao reparo de armamentos, de equipamentos e de embarcações.
A construção do primeiro edifício do arsenal foi iniciada em 1828, na Rua dos Andradas, em Porto Alegre. Em agosto de 1832, o espaço passou a ser chamado de Arsenal de Guerra do Rio Grande do Sul. Porém, o prédio que atualmente abriga o Museu Militar foi construído entre os anos de 1864 e 1867 e surgiu como um anexo do antigo Arsenal de Guerra, que foi importante durante a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), e ali funcionou, até o ano de 1935, quando foi transferido para o município de General Câmara, às margens do Rio Taquari.
A ideia de criar o museu, por sua vez, ocorreu em 1994, quando o então comandante da 3ª Região Militar, reuniu os primeiros carros de combate. Cinco anos mais tarde, o então Comandante Militar do Sul criou o MMCMS. A sede inicial foi na Avenida Padre Thomé, no Centro Histórico. Entretanto, em 2001, o museu passa a ocupar sua atual instalação ao lado do Quartel-General do Comando Militar do Sul.