Se Roma tem o seu crucifixo milagroso que teria salvado a cidade da Peste Negra em 1522 e que voltou às ruas este ano durante a pandemia do novo coronavírus, a Roma Negra — como é conhecida a cidade de Salvador — não fica atrás.
A imagem peregrina do Nosso Senhor do Bonfim percorreu as ruas da capital baiana em um carro do Corpo de Bombeiros nesta sexta-feira (3). É a quarta vez em 275 anos que a imagem deixa a Basílica do Bonfim, na Colina Sagrada, para circular pelas de Salvador.
A saída da imagem da igreja sempre aconteceu em períodos de gravidade. A primeira vez foi em 1842, quando uma seca atingiu a cidade. A segunda aconteceu em 1855, em meio a uma epidemia do cólera. A terceira foi 1942, com pedidos pelo fim da Segunda Guerra Mundial.
— Peregrinos costumavam subir a Colina Sagrada para contemplar o Senhor Bom Jesus do Bonfim. Agora, impedidos de sair de casa, é o Senhor Bom Jesus do Bonfim que percorre as ruas de Salvador, convidando-se a entrar na casa de cada peregrino e, particularmente, em cada coração — destacou o arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Dom Murilo Krieger.
A imagem deixou a Basílica na manhã desta sexta após uma bênção conduzida pelo padre Edson Menezes, reitor da Basílica do Bonfim. Ele fez o ato litúrgico vestindo uma máscara cirúrgica no rosto.
A imagem peregrina circulou por diversos bairros da cidade e foi saudado com lenços e panos brancos nas janelas das casas. A arquidiocese orientou aos fiéis que não saíssem às ruas para acompanhar a passagem da imagem do Senhor do Bonfim, nem acompanhassem o cortejo em seus carros.
— Suplicamos pela contenção da pandemia do coronavírus, pela recuperação da saúde dos que foram atingidos pelos vírus, pelos seus familiares, por todos os idosos, pelos desabrigados e por todos nós que estamos vivendo a experiência de isolamento social —afirmou o padre Edson.
A imagem peregrina do Nosso Senhor do Bonfim veio de Setúbal, em Portugal, e atravessou o oceano Atlântico em 1745 para cumprir uma promessa do capitão de mar e guerra Theodósio Rodrigues de Farias. As homenagens ao Senhor do Bonfim começaram em 1754, quando a imagem peregrina foi transferida da Igreja da Penha, em Itapagipe, para a Igreja do Bonfim, construída na Colina Sagrada.
A tradição do cortejo começou em 1773, iniciada por romeiros e escravos que, a mando dos senhores integrantes da Irmandade do Senhor do Bonfim, limpavam e enfeitavam a igreja para a missa. O cortejo de 6,5 quilômetros até a Colina Sagrada se repete há 247 anos, sempre na segunda quinta-feira após a festa do Terno de Reis.