Pipocam em grupos de WhatsApp vídeos em que adolescentes aparecem brincando de derrubar uns aos outros no chão. Apelidada de quebra-crânios ou roleta humana, a ação consiste em derrubar uma pessoa no chão. O imprudente passatempo não é novo, mas voltou a viralizar neste início de ano, preocupando pais e especialistas com a retomada do ano letivo nas escolas do país.
Por isso, Mara Lúcia Rossato, psicóloga e terapeuta de família, alerta para importância de se conversar com os adolescentes sobre os perigos da atitude, que pode levar à morte – acredita-se que, em Mossoró, no Rio Grande do Norte, uma estudante de 16 anos sofreu traumatismo craniano após participar da brincadeira e não resistiu.
Mara Lúcia reforça a importância de estimular a capacidade de empatia, ou seja, de conseguir se colocar no lugar do outro ainda nos primeiros anos de vida. Isso porque este ensinamento inclui a noção de respeito pelo corpo e espaço do outro, dentro de um contexto no qual a integridade física é fundamental.
— É preciso instruir a criança para que ela se torne um adolescente que entenda a relevância da garantia da segurança e do cuidado com a vida. Quando surgem estes virais com brincadeiras mais perigosas, o jovem estará ciente de que isso não deve ser feito e, no momento da conversa, é preciso ser realista, falar dos riscos e, dependendo da idade, mostrar o vídeo — diz a terapeuta de família.
Marcelo Porto, diretor da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, afirma que os riscos ocasionados pela brincadeira vão desde fraturas até a morte.
— Fraturas de braço, antebraço, mão e punho, que podem ser leves ou causar um comprometimento para a vida futura se o osso da base do polegar se romper, por exemplo. Os casos mais graves são fratura de crânio, que podem causar hemorragias e levar à morte, cegueira e fratura da cervical, que pode deixar a pessoa tetraplégica ou ser fatal — afirma Porto.
A terapeuta de família ainda alerta sobre a importância do diálogo entre pais e filhos e de construir uma relação de confiança ainda na infância.
— Para o diálogo ser efetivo, não depende de uma ação pontual, ele é resultado de um processo — avalia, ressaltando que mesmo uma atitude boba, como um adulto dizer que a injeção não vai doer e ela dói, é capaz de abalar a confiança com os filhos.
— Se o vínculo não é seguro (desde o início), não adianta querer se fazer ouvir agora — complementa.
Por que os adolescentes se expõem ao perigo?
A adolescência é uma fase, no mínimo, complicada e caracterizada pelo constante desafio aos limites, rompimentos com as regras estabelecidas e sensação de onipotência, diz Mara Lúcia:
— Isso, até determinado ponto, é importante para o processo de busca por autonomia. Entretanto, ele acaba se colocando em situações de perigo sem pensar nas consequências disso, porque isto também está atrelado a uma imaturidade neurológica. A região do cérebro responsável pelo discernimento é a última a se desenvolver. O adolescente é um inconsequente por natureza. E esse quadro pode ser potencializado se ele não tiver maturidade emocional.
Por que não estamos mostrando o vídeo nesta matéria?
A reportagem toma o cuidado de não mostrar as imagens da brincadeira, considerada muito perigosa por especialistas, para evitar que seja reproduzida por mais pessoas.