
Mantas e colchas para aquecer e conscientizar. Como marca das ações da Polícia Civil do RS no Outubro Rosa, agentes da ativa, comissárias de polícia aposentadas e voluntárias do Projeto Fios Que Aquecem em Quadradinhos fizeram um "crochetaço" na manhã desta segunda-feira (7). Reunidas no Palácio da Polícia, em Porto Alegre, confeccionaram peças com tons rosados para lembrar a campanha.
— Há mais de 10 anos eu vim aqui (na Delegacia da Mulher) denunciar um chefe que me maltratou. Hoje tô fazendo crochê para ajudar — relembra Ivone Maria da Silva, 72 anos, enquanto mantém a produção constante.
A aposentada afirma, de maneira bem-humorada, sentir tanto prazer na atividade que chega a ser repreendida pela família:
— Meus filhos dizem “mãe, para pelo menos pra almoçar”, e eu ali fazendo crochê com a barriga roncando.
Na rotina da Delegacia Especializada de Atendimento a Mulher (Deam), histórias de violência como a sofrida por Dona Ivone se repetem. Acolhidas pela ONG Na’Amat, dezenas de mulheres recebem apoio e traçam o mesmo objetivo: a solidariedade.
— Temos pessoas que se aposentaram e nos procuram para passar o tempo fazendo crochê, outras que mudaram de país ou enviuvaram e encontraram conosco o acolhimento - explica uma das coordenadoras do projeto, Jane Wulff, 50 anos.

Os crochês são doados a instituições filantrópicas. Em um ano de projeto, foram auxiliados em Porto Alegre dois abrigos e um asilo que receberam a produção das cerca de 130 voluntárias.
As ações com as agentes de segurança se estenderão até o dia 15 de outubro, quando ocorrerá, no Palácio da Polícia, um evento de crochê aberto à comunidade. Titular da Delegacia da Mulher, a delegada Tatiana Bastos defende o trabalho do grupo como uma forma de alerta para os exames preventivos do câncer de mama e de ajuda às vítimas que procuram a instituição.
— Recebemos aqui muitas mulheres vítimas de violência e sabemos que isso contribui para doenças psicossomáticas — alerta a delegada.
A venezuelana Belkis Mansano Pinheiro, 58 anos, deixou seu país há três anos, fugindo da crise política e social. Encontrou apoio no voluntariado e hoje participa de todas as atividades junto à ONG.
— Se ficasse na Venezuela eu estaria morta, com toda a perseguição que sofremos lá. Aqui faço algo que ajuda os demais — afirma.
O projeto Fios Que Aquecem em Quadradinhos recebe novelos de lã, além de utensílios para costura em um stand no Shopping João Pessoa. Também é possível levar as doações até a Delegacia da Mulher, no Palácio da Polícia. O acesso pela Rua Professor Freitas e Castro. No site do projeto, há mais detalhes sobre as ações, além de contatos das redes sociais para quem quer se tornar voluntário. O WhatsApp do grupo é 51 9985-1520.