
Nesta quarta-feira (13), data em que se celebra o Dia de Santo Antônio, o Hospital Pompéia de Caxias do Sul será o primeiro do mundo a ser agraciado com a entrega de uma relíquia da própria divindade canonizada. A capela da instituição passa a exibir um pedaço do corpo do santo "amado por todos". A solenidade de entrega ocorre às 16h, na própria igreja. No ato, o relicário onde ficará a parte da massa corporal (supõe-se como parte da língua) será instalado em um espaço específico, onde permanecerá para veneração de devotos, pacientes e funcionários do hospital.
— É o reconhecimento por uma instituição que traz essa espiritualidade e o grande bem que faz. Sempre fomos muito devotos a Santo Antônio e costumamos dizer que ele é o grande amigo do Pompéia — comenta a coordenadora administrativa do hospital, Renata Demori, que foi quem articulou a vinda da relíquia para Caxias.
O município já conta, desde a década de 1990, com um relicário de Santo Antônio na igreja dos Capuchinhos. Na época, o material foi trazido pelo frei Clemente Dotti direto de Pádua, na Itália. Também há alguns anos, um frei franciscano conventual de Pádua trouxe a Caxias do Sul uma relíquia que transitou pelo Hospital Pompéia, visitando leitos de pacientes. Foi por meio dessa relação, inclusive, que a instituição viabilizou a conquista.
— Sempre houve muita devoção a Santo Antônio no hospital, onde praticamos a trezena (orações a Santo Antônio nos 13 dias que antecedem a celebração) e há distribuição de pãezinhos aos funcionários e doentes. Santo Antônio escolheu morar aqui, fazer morada no hospital — complementa Renata.
— Penso que a força da fé em Santo Antônio nos inspira em duas atitudes que ele praticava: na solidariedade junto aos enfermos e na força da fé que nos ajuda a superar o momento de sofrimento da dor. É um dos santos com maior popularidade no mundo, porque ele viveu muito esses valores do Evangelho, os quais propagava com uma profundidade muito grande — destaca o capelão do Hospital Pompéia, padre Cláudio Pezzoli.
A cerimônia de entrega será discreta e restrita e ocorrerá no mesmo horário da missa diária, às 16h. O material será colocado em um relicário e entregue com um selo e o certificado de autenticidade, atestado às igrejas ou santuários.
Segundo explica a coordenadora administrativa do hospital, optou-se pelo formato para evitar grande movimentação de devotos nos corredores da instituição:
— Vai acabar sendo uma solenidade simples e humilde, mas grandiosa, o que combina com a humildade franciscana.
A capela do Hospital Pompéia pode ser visitada nos horário das missas, de segundas a sábados, das 16h às 16h30min. Além de Caxias, Bento Gonçalves e Passo Fundo também contam com relíquias no Estado.
Muito mais do que casamenteiro
Um dos mais conhecidos santos do Brasil, Fernando Antônio de Bulhões exerceu importante trabalho no auxílio a pessoas pobres, especialmente na cidade de Lisboa, em Portugal, onde nasceu (cogita-se entre 1191 e 1195). De família rica, ele abdicou da nobreza e, ainda jovem, saiu de casa para se tornar sacerdote, mesmo após resistência do pai. Depois de conhecer pessoalmente São Francisco de Assis, frei Antônio (como era chamado na época) tornou-se franciscano, ficou 15 meses como eremita e passou a propagar o Evangelho e ajudar os pobres (daí a imagem de Santo Antônio segurando pão).
Fernando Antônio de Bulhões morreu de hidropisia (doença que causa edemas generalizados) antes dos 40 anos, em Pádua, na Itália, no dia 13 de junho do ano de 1231, data em que hoje se celebra o Dia de Santo Antônio.
Por ajudar jovens carentes que desejavam casar, porém não tinham dinheiro para o enxoval, ele ficou conhecido posteriormente a sua morte como santo casamenteiro. No Brasil, a característica se popularizou em simpatias de Festa Junina. Hoje, além de casamenteiro, ele é considerado protetor das coisas perdidas e protetor dos pobres e dos enfermos.
O que é a relíquia?
Em 1263, dois anos após a morte do já canonizado Santo Antônio, uma basílica em sua honra foi erigida em Pádua, cidade da Itália onde ele morreu. No processo de exumação do corpo, o sarcófago onde ele estava foi aberto e, neste momento, observou-se que a língua e as cordas vocais estavam intactas — que são consideradas partes do corpo que se decompõem primeiro. Atribuiu-se a preservação das partes como símbolo da oratória de Santo Antônio, uma das características marcantes dele em vida.
Ao ser encontrada incorrupta, a língua, e também o maxilar, foram retirados e dispostos na basílica das relíquias, em Pádua. Parte da massa corporal, no entanto, foi dividida para ser distribuída em locais que se destacam pela devoção a Santo Antônio.