Desde segunda-feira (1º), a Califórnia permite a venda e o consumo legal da maconha para fins recreativos, depois de ser, desde 1996, pioneira norte-americana na utilização da maconha medicinal. Assim, o Estado mais populoso dos Estados Unidos se transforma, de fato, no maior mercado mundial legal da planta.
— Estamos muito empolgados, e um pouco nervosos também. Há três vezes mais pessoas do que o normal — explica Nicole Salisbury, 35 anos, proprietária da loja Green Pearl Organics no deserto de Hot Springs, sobre a grande procura pela erva.
Ela conta que seu telefone não para de tocar há semanas. Cidadãos de outros Estados ligam para dizer que estão indo passar férias na região e perguntando se ela vende maconha recreativa. Na segunda, em todas as partes da Califórnia, os adeptos da maconha fizeram fila nas lojas habilitadas a vender a droga.
Em Green Pearl Organics, a equipe está de pé desde as 8h informando os clientes sobre os diferentes produtos (concentrados, tortas de erva, flores de cannabis calmantes, flores de cannabis euforizantes...). Ao meio-dia a loja está cheia e os estoques de produtos comestíveis começam a escassear.
Agora, para comprar cannabis só é preciso ter mais de 21 anos e mostrar uma carteira de motorista ou de identidade, mesmo que seja de um Estado onde a maconha é proibida, e o cliente sai da loja com uma sacola branca selada.
"Todo mundo sai ganhando"
A sala de espera da Green Pearl Organics está cheia de homens e mulheres de todas as idades, muitos deles cidadãos desta região do deserto californiano, situada a duas horas de Los Angeles.
— É ótimo poder comprar maconha sem ter que consultar um médico — diz Andrew Jennings, texano de 32 anos, que explica que em seu estado de origem "não há nenhum local para comprar cannabis legalmente, com ou sem autorização medicinal". — Muitas pessoas acham que consumir maconha significa ficar sentado na poltrona vendo TV, mas segundo a variedade e a intensidade, pode aumentar a concentração — afirma Jennings, na fila com a namorada, que é professora de ioga.
— Entendo que alguns pensem que é perigosa, mas se vendemos álcool neste país, então podemos vender legalmente maconha. Além disso, contribui com os impostos. E nós conseguimos boa maconha que está sendo testada, então todo mundo sai ganhando — indica.
Christina, uma terapeuta de 50 anos, veio para experimentar os óleos de cannabis, esperando que lhe ajudem a melhorar seu equilíbrio hormonal e a reduzir sua ansiedade.
— Eu experimento esses remédios naturais, mas não quero me tornar uma maconheira — explica.
Menos "glamourosa" e rica que a vizinha Los Angeles, Desert Hot Springs espera se tornar um destino para apaixonados ou curiosos pela erva procedentes de todo o país. Muitos empreendedores compram armazéns para cultivar, como Nicole Salisbury, que cultiva suas plantas nos fundos da loja, enquanto trabalha para uma rede de agricultores.
A prefeitura, e inclusive a polícia, se mostram favoráveis a esta indústria em pleno auge que, segundo a empresa de pesquisa Arcview, deveria trazer 5,8 bilhões de dólares adicionais para a Califórnia até 2021.
Para Nicole, que abriu sua loja há dois anos, a legalização chega junto com uma vitória pessoal:
— Finalmente parei de ter vergonha de dizer o que faço da vida.
Oito Estados americanos, entre eles o Colorado e Washington já legalizaram a droga, que continua sendo ilegal em nível federal.