Mesmo sem a confirmação de casos, começaram a surgir mobilizações para conter a disseminação do Baleia Azul. Uma das estratégias adotadas é criar "contrajogos" que utilizem a mesma lógica, com regras divulgadas em redes sociais, mas que proponham desafios focados na promoção do bem-estar.
Nos próximos dias, a Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), da cidade de São Paulo, deve lançar o Coelho Branco, que consiste em 15 tarefas elaboradas por estudantes do ensino médio técnico de Programação de Jogos Digitais, sob supervisão da professora Evelyn Cid.
Leia mais
Jogo da Baleia Azul, que pode levar ao suicídio, é "perverso", dizem especialistas
Secretaria de Saúde de Porto Alegre lança nota sobre Jogo da Baleia Azul
Suicídio de jovens: casos de automutilação são frequentes e acendem alerta
Segundo o diretor Marcelo Krokoscz, a ideia partiu dos próprios adolescentes durante uma discussão em sala de aula.
– Também conversamos com os pais para alertá-los, foi uma campanha ampla – explica.
Com proposta parecida, dois publicitários e a psicóloga Tamara Moura Camargo, de 30 anos, lançaram o site Baleia Rosa.
– Meus amigos resolveram responder ao jogo utilizando a linguagem da propaganda para promover algo benéfico e me convidaram por ter conhecimento na área – conta Tamara.
Segundo ela, o projeto cresceu mais no Facebook, no qual ultrapassou 157 mil seguidores em seis dias. Em menos de 24 horas, ela calcula ter recebido 2 mil mensagens pelo perfil na rede social, das quais ao menos 20% são de usuários com tendências suicidas.
– Alguns relatam ter pessoas próximas que passam por isso, enquanto outros dizem ter jogado o Baleia-Azul. Muitos também querem desabafar – explica ela, que costuma fazer um acolhimento e, após conversas iniciais, indicar atendimento gratuito para essas pessoas.
– Não tem como exercer uma psicoterapia pelo Facebook, então o meu trabalho é quase uma triagem, de dar uma palavra de conforto – comenta.
De acordo com Tamara, a procura é tamanha que o Baleia Rosa cogita recrutar outros psicólogos para ajudarem, pois, por envolver uma situação delicada, a resposta precisa ser ágil.
– Não era esse o objetivo inicial, mas tudo tomou uma proporção maior. Precisamos ajudar essas pessoas – explica.
Uma moradora de Ribeirão Preto de 17 anos foi uma das que procurou a página. Ela afirma enfrentar problemas em casa, após o término de um namoro, além de sofrer bullying na escola e, por isso, se mutilaria há um ano. Ao saber do Baleia Azul, inicialmente procurou o jogo, mas não aceitou participar dos desafios. Ela conta que, quando relata o que sente, ouve que é "frescura".
– Essas pessoas (aliciadores do jogo) também precisam de ajuda. Só querem nos ajudar a fazer a dor passar.
A psicóloga Karen Scavacini, fundadora do Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvenção do Suicídio, de São Paulo, explica que a adolescência é uma fase delicada, por marcar o descolamento da família e a busca da independência, o que pode explicar o predomínio de menores de idade nesses jogos.
– É uma fase de desafios, de inseguranças envolvendo escola, vestibular, carreira. Mesmo os mais fragilizados querem se sentir poderosos – afirma.
Especialista em psicologia escolar, Jéssica Vilela comenta também que grupos que promovem suicídio e automutilação podem ser um "gatilho".
– Esses adolescentes encontram alguém com quem falar sobre essa possibilidade e podem ser encorajados ao perceber que há mais pessoas pensando nisso – alerta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.