Depois de juntar economias e de dedicar meses ao planejamento e à preparação da viagem, a professora estadual aposentada Denise Friedrich, 61 anos, descobriu que uma peça defeituosa em uma máquina da Casa da Moeda pode impedi-la de realizar o sonho de conhecer a Europa.
Por causa da peça, a confecção de passaportes está paralisada no país, impedindo o processamento de 9 mil pedidos a cada dia. A confecção já estava represada havia algumas semanas, em consequência da falta do papel usado para fazer a capa do documento.
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Com voo marcado para este sábado, a professora residente em Canoas viveu nos últimos dias uma odisseia que incluiu até telefonemas para o gabinete da presidência da República, na esperança de conseguir os papéis. Na tarde desta quinta-feira, obteve um passaporte emergencial, mas ainda paira o risco de que as autoridades espanholas impeçam a entrada da professora no país.
– Na Espanha, eles não entendem esses problemas ridículos, como falta de papel para passaporte ou defeito de máquina. Ela trabalhou a vida toda, e essa viagem é a realização de um sonho. Em um país sério, uma situação como essa não aconteceria – observa Jonas Friedrich, 31 anos, filho de Denise.
A Casa da Moeda afirmou a Zero Hora que o problema ocorreu em 24 de junho, em um equipamento "importado, sofisticado e específico" que realiza a perfuração a laser do número do passaporte. O aparelho alternativo, que poderia ser utilizado, também estragou. A peça com falha foi enviada a São Paulo, mas o conserto não foi possível. De acordo com a Casa da Moeda, uma nova peça foi encomendada na Alemanha e deve chegar nesta sexta-feira. A previsão é de que, depois de uma fase de testes, a produção e o envio dos documentos à Policia Federal (PF) devem ser retomados na próxima semana.
A professora Denise Friedrich agendou a solicitação do passaporte pela internet em 3 de maio e, no fim do mês, esteve na PF para dar prosseguimento aos trâmites. Em geral, o documento costumava ser produzido em seis dias úteis, mas a falta de papel ampliou os prazos. Denise foi informada de que a entrega ocorreria apenas em 23 de junho – um dia antes da data em que a máquina perfuradora estragou, conforme o relato da Casa da Moeda. No dia aprazado, quando foi buscar o passaporte, informaram-lhe na Polícia Federal que havia ocorrido um atraso e que a entrega ocorreria no dia 27. Denise voltou à PF e mais uma vez o documento não estava lá. No dia seguinte, em contato telefônico, sugeriram-lhe entrar com um protocolo de urgência.
– Dito isso, rapidamente criamos um novo protocolo e fomos à PF. Chegando lá, adivinhem a resposta? "A máquina de confecção dos passaportes quebrou e nem os de urgência estão sendo feitos". Muito triste isso – relatou Jonas.
A partir dali, o filho começou a se mobilizar para tentar salvar a viagem dos sonhos da professora. Telefonou até para o gabinete de Michel Temer, onde foi parar no setor de documentos e cartas da presidência. Lá, sugeriram que tentasse o Ministério da Justiça, onde recomendaram procurar a Polícia Federal. Os contatos com a PF deram em nada. No final, depois de várias tentativas, Jonas conseguiu contato telefônico com uma funcionária da Casa da Moeda, que se sensibilizou e prometeu verificar o que era possível fazer. Na quarta-feira, veio a resposta:
– Infelizmente, não tenho boas notícias para ti. A situação aqui está caótica e não está saindo o passaporte de ninguém.
Na manhã desta quinta-feira, a mesma funcionária telefonou para contar que o passaporte estava confeccionado, mas não seria entregue por não ter a perfuração de segurança. Denise já havia feito contato telefônico também com o consulado da Espanha, onde lhe disseram que não conseguiria entrar no país europeu com um passaporte emergencial. Por insistência do filho, ela esteve pessoalmente no consulado, nesta quinta-feira, e disseram-lhe que, sim, seria possível o ingresso com o passaporte de emergência. Ela correu à PF para fazer a versão emergencial.
À tarde, com o documento em mãos, ela tratou de completar a arrumação da mala, suspensa desde a segunda-feira.
– Achei que não ia viajar. Seria uma grande frustração. Mas agora estou confiante de que vai dar certo – diz a professora aposentada.
Jonas, que vai viajar com a mãe, ainda não está convicto de que ela conseguirá passar pela imigração.
– É um risco, porque a Espanha tem impedido a entrada de muitos brasileiros. Da próxima vez que tiver de renovar o passaporte, vou fazer isso com seis meses de antecedência – diz.
A Polícia Federal manifestou-se apenas por meio de uma curta nota, na qual diz que a Casa da Moeda informou nesta quinta-feira o problema em uma máquina, o que impedirá o cumprimento dos prazos.