O que fazer quando as crianças pedem para entrar nas redes sociais? Cada vez mais jovens, elas ganham smartphones, aprendem a baixar aplicativos e estão decididas: querem ser donas do próprio perfil. Entre as crianças brasileiras de 9 a 10 anos que usam a internet, 43% revelam ter perfil próprio em algum site de rede social. A exposição da identidade, os relacionamentos que podem surgir na rede e o conteúdo a que eles estão expostos cada vez mais cedo costumam preocupar os pais. Já que é difícil evitar o interesse, a reportagem traz dicas para lidar da melhor forma com crianças e adolescentes nas redes sociais.
O diálogo constante e a confiança entre pais e filho foram os caminhos adotados por Gisele Guimarães, 42 anos, desde que Gabriel, 12, começou a navegar pelos mares incertos da internet. Aliás, conversar abertamente e estimular a responsabilidade são práticas da família em qualquer assunto. Em relação à internet e às redes sociais, Gisele tem observado que a rapidez e o excesso de informações que a web proporciona sempre têm efeitos no dia a dia do pré-adolescente. Por isso, Gabriel conhece os limites do acesso:
– Ele cresceu conectado, e eu vejo que isso gera uma certa ansiedade, uma necessidade de ter respostas para tudo, muito rapidamente. A gente percebe que o computador, o tablet e o celular deixam a cabeça dele acelerada. Por isso, horas antes do horário de estudo ou de ir dormir, ele já não mexe mais no smartphone, para conseguir descansar ou se concentrar – explica Gisele.
Essa é uma das recomendações da psicóloga especialista em infância e adolescência Aline Restano:
– Deve-se avaliar se o acesso às redes sociais está prejudicando as atividades da criança pelas consequências que isso tem na sua rotina. A família pode ter combinações em que momentos o uso é limitado, como na hora do jantar, por exemplo.
Gabriel tem perfil no Facebook e, se precisar, os pais têm a senha para acessar o perfil dele, mas isso não costuma acontecer. E o exemplo dos pais tem influenciado muito nos interesses do filho. Gisele e o marido, Rogério Pinheiro, também estão nas redes sociais, mas usam os perfis com moderação, mesmo que uma presença mais intensa na rede poderia se justificar pela atividade artística dos dois, que são cantores.
– Não são todos os aplicativos que interessam ao Gabriel. Assim como a gente não dedica tanto tempo assim para os nossos perfis nas redes sociais porque vemos que isso gera uma certa “obrigação” de estar sempre fazendo coisas legais para postar, buscamos mostrar para ele que o convívio pela internet não substitui o contato pessoal nem atividades que são fundamentais para a saúde e o desenvolvimento dele, como ir jogar basquete com os amigos – acrescenta a mãe.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
- Qual a idade certa para a criança ter um perfil?
Para Aline Restano, psicóloga e especialista em infância e adolescência, não há idade ideal ou certa para entrar nas redes sociais. Porém, ela diz que, quanto mais tarde, melhor. A avaliação da hora adequada para criar o perfil deve ser feita pelos pais, considerando a maturidade da criança em lidar com assuntos como privacidade e proteção contra o bullying.
- Devo usar as redes sociais para monitorar meus filhos?
É importante conhecer o funcionamento de todos os sites e aplicativos para auxiliar o filho na configuração segura da conta e instruí-lo sobre as boas práticas que variam para cada serviço. Computador ou tablet podem servir como babás eletrônicas, e muitos pais caem nessa tentação, deixando os filhos vulneráveis. Nem todos os pais têm condições de acompanhar cada passo ou participar das redes, mas deve-se ter a consciência de que a internet é uma janela para o mundo.
- Preciso ter a senha do meu filho?
Ensinar sobre a importância de resguardar senhas no mundo digital pode começar pelos pais. Não é necessário ter acesso às contas dos filhos, mas é aconselhável ensiná-los que nem para os amigos essa informação deve ser revelada.
- Quais dados a criança pode informar no perfil?
Informações geolocalizadas ou sobre a escola ou lugar de trabalho dos pais devem ser publicadas com cuidado. Os adultos devem ensinar como a configuração de privacidade do perfil pode ser feita para que dados pessoais não se tornem públicos.
- Quais redes devem ser evitadas?
Uma atenção maior deve ser tomada com as redes que permitem o anonimato, como o Ask.fm – uma rede social de perguntas e respostas. É nesses sites que acontecem casos de cyberbullying em número maior e nos quais são tratados assuntos mais abertos sobre sexualidade. O Snapchat, app para troca de vídeos e fotos que desaparecem em 24 horas, também merece atenção: é muito usado para a troca de conteúdos de cunho sexual.
- Quando o uso passa a ser prejudicial?
O fator não deve ser o tempo, mas as consequências. Dormir mais tarde do que o horário estipulado pela família, diminuir o ritmo na escola ou demonstrar um comportamento mais instrospectivo e diferente são alguns indícios.
- Quais são os cuidados que os pais devem ter nas suas redes sociais?
Antes de postar, avalie quem tem acesso às publicações. Assim como as crianças devem tomar cuidado, pais que compartilham informações geolocalizadas ou dados pessoais como endereço, local de trabalho ou o nome da escola devem configurar os ajustes de privacidade e restringir os amigos que têm acesso àquele conteúdo. Também é recomendável avaliar com outros pais antes de postar fotos do filho com outras crianças e respeitar a decisão de privacidade de outras famílias.