Eles serão 20,8 milhões brasileiros, ou 10,21% da população, até o final de 2015, segundo a projeção do IBGE. Em 2030, chegarão a 14,43%. Os homens com mais de 50 anos, além de numerosos e de lembrarem em muito pouco os cinquentões do passado, estão se reinventando ao assumir, novamente - ou pela primeira vez -, um dos papéis mais genuínos do homem - o de ser pai. No final de semana que os homenageamos, o Diário Gaúcho conta histórias em que os filhos trouxeram um novo significado para a vida dos seus pais.
"A gente se regenera", conta Carlos Alberto
Com três filhos adultos e dois netos, o aeroviário aposentado Carlos Alberto Flores Damiani, que jamais imaginou que ouviria um choro de bebê em casa novamente, foi surpreendido por si mesmo ao conseguir ser pai, aos 65 anos. Casou pela terceira vez e embarcou em uma experiência que trouxe uma energia nova para sua vida: o pequeno Kauã, hoje com quatro anos.
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- Não me imaginava com um filho pequeno. Fiz exames, não tomei remédio e consegui. Quando peguei ele após o parto, foi uma emoção incrível. É muito bom sentir isso, a gente se regenera. Eu penso o futuro, no tempo que ainda tenho para viver. Não quero perder tempo - diz, emocionado.
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Com 70 anos e aposentado, o morador do Bairro Restinga, na Zona Sul da Capital, se diz um pai diferente do que já foi. Aprendeu a gostar a brincar com dinossauros e está sendo ensinado pelo caçula a mexer no tablet.
Além de ter mais tempo para conviver com o filho, não se assusta com qualquer dor de garganta e traz confiança para a esposa, a artesã Carla, 38 anos. A convivência direta com o menino criou um afeição entre os dois que até o surpreende:
- Ele é todo meu, fica comido o dia todo. É muito amor, muito carinho e ele corresponde a tudo. Ele me marca muito com o que diz. Além de papai, me chama de amigão.
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Além de Kauã, Carlos é pai de Jino, 43 anos, Helena, 40 anos e Marjorie, 25 anos, frutos dos primeiros casamentos. Atualmente, tem quatro netos, de sete, seis, quatro e três anos.
- Sempre dei atenção a todos, mas com os outros (filhos), eu trabalhava e a vida era mais corrida. Hoje, tenho uma bagagem diferente. Estou gostando muito dessa fase da minha vida com Kauã _ conta, orgulhoso.
Gilmar voltou a olhar desenho e jogar bola
Foi depois dos 50 anos que o vendedor Gilmar Mello voltou a ter brinquedos e carrinhos espalhados pela casa e a assistir, incansavelmente, ao filme das Tartarugas Ninjas. Junto com a esposa Angela Teresinha da Silveira, 46 anos, decidiu aumentar a família que vive no Parque da Matriz, em Cachoeirinha - um desejo compartilhado também pelos filhos mais velhos, Vinicius, 23 anos, e Nicole, 18 anos.
Asaph está com seis anos e tem o privilégio de ser paparicado por pais e irmãos. Embora admita que não tem mais o mesmo pique que tinha há 20 anos, Gilmar tem mais tempo para ser participativo, brincar e jogar bola.
Mais maduro e confiante, fica bobo ao dizer que o pequeno sente sua falta quando ele viaja a trabalho e fala, orgulhoso, das vantagens de não ser marinheiro de primeira viagem:
- Nos primeiros filhos, tudo é novo, tudo é com muito medo, é novidade. Hoje, a gente já não se apavora com o choro, já sei como é que é, é mais fácil de administrar. Quando meu primeiro filho nasceu, tinha 33 anos, fiquei tenso, até chorei. Agora, foi mais tranquilo, consegui acompanhar a gravidez mais de perto. E agora a casa voltou aquela velha bagunça que era antes.
"Enchia o peito para dizer que eram meus filhos", orgulha-se Ataíde
O sargento aposentado da Brigada Militar Ataíde João Zambeli chegou a imaginar que não teria mais filhos. Sua primeira mulher não podia engravidar. Viúvo aos 53 anos, casou com a dona de casa Flávia Antunes.
Por já ter duas filhas do primeiro relacionamento, ela não tinha pressa de ser mãe novamente e ia levando seu Ataíde na conversa. Mal sabia ele que a espera valeria a pena. Apenas aos 57 anos recebeu a notícia que o tornaria pai duas vezes.
- Ele não acreditou quando liguei e disse que eram dois - lembra Flávia, 51 anos.
Em 2002, enfim, a casa do casal no Bairro Bom Jesus, em Porto Alegre, se encheu como nunca com a chegada dos gêmeos idênticos Pedro Henrique e João Gabriel. O cinquentão que queria tanto ser pai pôde, então, deleitar-se com dois bebês.
Atrapalhou-se no começo, colocava fralda errada e pedia ajuda da esposa, mas não decepcionou.
- Eles deram muito o que fazer, mas a satisfação é dupla - relata.
Com 70 anos, garante que sua vida recomeçou a partir dos 57, quando sentiu pela primeira vez a responsabilidade de ser pai.
- Passei a ter outras preocupações, querendo criar eles bem, passando meu conhecimento de vida e dando tudo que pudesse.
Ele admite que também foi aprendendo com eles. Aos que perguntavam se os gêmeos eram seus netos, falava que não, sem constrangimento algum e convicto do paizão que é:
- Enchia o peito para dizer que eram meus filhos. Isso, eu sempre tirei de letra.
Os prós e os contras
A chance da decisão de ser pai depois dos 50 ser mais pensada, organizada e madura é muito maior. Estabilizado profissionalmente e economicamente, o homem tem mais condições de avaliar o que quer para si, afirma a professora do programa Pós-Graduação em Psicologia da Unisinos, Ilana Andretta.
- Em alguns casos o que ocorre é a síndrome do ninho vazio, os filhos mais velhos estão saindo de casa e o novo filho entre nessa lacuna. Por isso precisa ser uma decisão muito bem pensada, não pode ser feita por impulso. Ter um filho não é comprar um sofá novo.
Ilana também lembra das consequências nas relações familiares que um filho pode trazer, entre as quais está a relação com os filhos de outros casamentos. Ela considera, porém, que é preciso levar em conta outras variáveis. Como o pique para acompanhar uma criança, brincar e construir um vínculo forte com a sua rotina:
- Como a convivência tende a ser muito mais próxima, os pais devem cuidar para não tornar a criança muito mimada. É aconselhável que seja uma relação honesta e verdadeira com a criança.
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