"O que mais me irrita? Não conseguir perder essa barriga."
A reclamação é repetida por dez entre dez mulheres que deram à luz há pouco tempo. A indesejável barriguinha de grávida, que persiste por meses após o parto, exige, muitas vezes, acompanhamento médico. Algumas até recorrem a procedimentos cirúrgicos - último recurso no caso de um problema mais sério, como uma hérnia, provocado pelo peso da barriga e pela falta de exercícios de fortalecimento do abdome e do assoalho pélvico durante e após a gestação.
A fisioterapeuta Sarah Reis atende grávidas desde que se formou, há cinco anos. Mas, segundo ela, esse tipo de paciente tem sido cada vez mais frequente. Todas querem fazer exercícios deixar a barriga durinha. "A primeira preocupação delas é estética, mas muitas pensam nos cuidados com a saúde, principalmente aquelas que sofrem com dores na coluna, no ombro ou no punho", constata. A partir de exercícios de pilates, a fisioterapeuta trabalha a parte aeróbica, a circulação sanguínea, a respiração e o fortalecimento de braços - as mães precisam fortalecê-los para carregar a criança - , pélvis e, claro, abdome.
Engana-se quem supõe que a mulher que deu à luz precisa de um longo período de resguardo antes de se exercitar. A atividade física pode começar já no hospital. Adequados aos limites do corpo de cada mulher, movimentos sutis podem ser feitos com as pernas e com a barriga. Já foi comprovado que aquelas que praticam atividade física durante a gravidez usufruem de mais benefícios. "Quando a mulher faz exercícios durante a gestação, ela fortalece o abdome. Assim, quando o bebê nasce, o músculo abdominal continuará forte e a recuperação será mais rápida", ressalta a especialista.
Com a farmacêutica Cláudia Rabelo, 38 anos, foi assim. Ela não se descuidou. Enquanto esperava a pequena Maria Carolina, hoje com dois meses, praticou natação e teve o acompanhamento da fisioterapeuta Rafaela Rosa. "Nadei até a 30ª semana. Meu professor me falava: 'Agora não dá mais. Só com seu marido aqui, do seu lado'", lembra, aos risos. A farmacêutica já perdeu dez dos 16 quilos que ganhou e apresenta uma barriguinha bem menor do que a de outras mulheres que não se cuidaram ao longo dos 9 meses.
O sucesso de Cláudia também se deve à abordagem trazida dos Estados Unidos por Rafaela Rosa. Em 2009, a fisioterapeuta se habilitou na técnica Tupler, desenvolvida pela enfermeira Julie Tupler, em Nova York. Conhecida como Lose your mummy tummy - em português, perca a barriga de mamãe - , o método se baseia em uma reeducação abdominal. Na verdade, explica a especialista, trata-se de uma reabilitação da diástase.
Diástase é a separação dos dois músculos mais superficiais no abdome, os retos do abdome. Quando a barriga é empurrada para frente na gestação, o movimento afasta os músculos. Entre os retos do abdome há um tecido branco chamado fáscia, e que a pesquisadora norte-americana chama de conectivo. Esse tecido não é elástico, ou seja, ele fica esgarçado após esse movimento e, por isso, a barriga no pós-parto não volta ao normal instantaneamente.
Para cicatrizar a fáscia, entra em cena a técnica Tupler, que consiste em quatro etapas: exercícios específicos para abdome, uso de uma faixa abdominal, aumento da consciência corporal e mudanças de hábitos que podem piorar ou provocar a diástase. Durante os exercícios, a mulher pode usar a faixa abdominal desenvolvida por Julie Tupler. Se a mulher passou por um parto normal, no dia seguinte ela já pode usar a faixa. No caso de uma cesária, ela deve esperar seis semanas para o processo de cicatrização. "Não é uma cinta, uma vez que a função da cinta é empurrar a barriga para dentro. A faixa, no entanto, aproxima os dois músculos reto abdonominais", esclarece Rafaela.
Antes de iniciar o tratamento, a fisioterapeuta faz uma avaliação da pessoa deitada e do músculo relaxado. Algumas pacientes chegam a apresentar oito dedos de espaço entre um músculo e outro, tamanha a diástase. O ideal é, segundo a fisioterapeuta Rafaela Rosa, dar início ao programa com 12 semanas de gravidez. "Para se ter uma ideia, há casos em que a recuperação demora 18 semanas ou mais. "E não tem a ver com o peso da mulher. Há magras que têm e outras que estão acima do peso que não têm. Só após uma avaliação é possível constatar - e muitas pessoas não sabem avaliar ou avaliam errado", alerta a fisioterapeuta.
Seja qual for o método escolhido e indicado pelo seu médico para a retomada de atividades físicas após o parto, o fato é que a "barriguinha de mamãe" demora um pouco a dizer adeus. Tomados alguns cuidados, como alimentação adequada, exercícios físicos apropriados e acompanhamento médico, é possível contorná-la sem maiores traumas. "Se houver consciência corporal, disciplina para a atividade física e investimento em qualidade de vida, o resultado é mais saúde para a mamãe e bem-estar para o bebê", arremata a fisioterapeuta Sarah Reis.
Hábitos a serem cultivados:
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