Rodrigo Lima, um analista de suporte de 22 anos de Carapicuíba, no interior de São Paulo, nunca conheceu alguém com autismo. Em razão disso, ele se tornou um exemplo de empatia nesta semana ao ajudar uma mãe que pedia a volta do filme Procurando Nemo ao catálogo da Netflix . O problema é que o filho, com seis anos e diagnóstico de autismo, tinha crises porque não podia mais ver o o filme no mesmo padrão do aplicativo de streaming.
O jovem viu a postagem da mãe pedindo a volta do desenho e que explicava que não bastava assistir no YouTube ou num simples DVD e resolveu ajudá-la: fez uma cópia do filme com um menu personalizado da Netflix.
— Eu consegui entender que ele tinha esse problema de adaptação. E como nessa condição de autismo a pessoa tem problemas de comunicação e interação, eu decidi ajudar mesmo — relatou Rodrigo em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, nesta terça-feira (8).
Rodrigo não esperava que o simples ato fosse chamar tanto a atenção, rendendo até postagens de famosos na web contando a história: Deborah Secco postou a história em seu perfil oficial no Instagram.
— Estou recebendo várias mensagens, até de Portugal — diz o analista de suporte.
Como a história se desenrolou
Tudo começou na virada do ano. No último dia de 2018, antes de dormir, Miguel Torres, um menino autista de seis anos, entrou na Netflix e assistiu ao seu filme favorito: a animação da Pixar Procurando Nemo. Ele fez a mesma coisa ao acordar no dia 1º. Porém, ao procurar o filme no catálogo do streaming, não o encontrou.
— Ele chorava e me pedia: "Nemo, Netclifes!". E falava algumas frases do filme, pois achava que eu não estava entendendo o que ele queria — conta a mãe, Fernanda Torres, a GaúchaZH.
Os dias seguintes foram iguais, com ele chorando e tendo crises. Mesmo tentando colocar o filme no YouTube, o que afetava Miguel era a falta do padrão que ele estava acostumado.
— Ele não aceitava porque não tinha o menu da Netflix — explica.
Foi na última sexta-feira (4), ao ver uma postagem da empresa no Facebook, que ela teve a ideia de pedir o filme de volta. Fernanda também resolveu tentar em uma publicação da Studios Walt Disney, mas nenhuma das empresas a respondeu. As pessoas que comentavam o seu apelo começaram a sugerir que ela comprasse um DVD, que baixasse da internet, mas ela explicava que isso não resolveria:
— Não entendiam meu desespero. Poucas pessoas sabem o que é o autismo, que eles ficam ansiosos e sofrem com uma quebra de rotina.
Mas um dos comentários chamou a atenção de Fernanda. Rodrigo se ofereceu para criar um menu personalizado para um DVD, que fosse igual à tela inicial da Netflix.
— Fiz para ajudar mesmo, queria tentar resolver um problema que sabia que seria de difícil solução, mas não sabia se conseguiria — relata Rodrigo.
Ele explica que a edição do menu foi rápida, mas, por causa da internet, o upload do link demorou nove horas.
Após o comentário, Fernanda não pensou que ele fosse mesmo fazer a edição. Mas, no sábado, surpreendeu-se ao ver a resposta de Rodrigo. Junto a uma imagem de como ficou o menu, ele enviou o link para ela fazer o download e testar se a ideia havia dado certo.
— Estava perfeito, chorei de alegria e meu coração se encheu de esperança — relata Fernanda.
Mas foi só na segunda-feira (7) que a mãe conseguiu gravar o DVD. Miguel ficou extremamente feliz e assistiu o filme mais de uma vez.
— Uma coisa que para o Rodrigo foi simples, para mim foi um presente gigante. Ver meu filho feliz não tem coisa melhor — afirma.
Ao Timeline, Rodrigo conta que, na hora de criar o menu, não pensou que alguém poderia falar que era pirataria, como alguns comentários na postagem do Facebook deram a entender.
— A minha intenção mesmo era só ajudar o menino. Não era ferir direitos de alguma empresa. Como eu fiz especificamente para ele, aí não ligo muito para isso e fico feliz que tenha dado certo — afirma.
Confira a entrevista de Rodrigo ao programa Timeline na íntegra: