
A tomada de posição dos jogadores da Seleção Brasileira em questionarem a participação na Copa América já se mostra histórica. Se as razões e consequências penderão para o bem ou para o mal, será possível conferir a partir do final da noite de terça-feira (8). Está muito clara uma indignação interna com o fato da competição ter trocado de sede e o Brasil ter assumido sua organização em meio à pandemia. A suposta relação com o fato dos atletas que atuam na Europa reivindicarem poder gozar as férias precisará ser muito bem esclarecida, bem como se estamos diante de um movimento político. O clima vivido tem como último precedente a briga e o boicote com um patrocinador há 31 anos, nas vésperas da Copa da Itália, aquela que terminou para os brasileiros nas oitavas de final nos pés do argentino Caniggia.
Antes da Copa do Mundo de 1990 a CBF assinou um contrato com uma indústria de refrigerantes, fazendo um acordo de direito de imagem com os atletas. Já com a equipe concentrada na Granja Comary para o mundial, o grupo identificou que o valor a ele destinado era mínimo perto do acerto global, diferente do combinado. Houve reunião e tomada de posição. A crise de relacionamento se agravou com a negativa do presidente da entidade, Ricardo Teixeira, de ir a Teresópolis renegociar os valores. No dia da foto oficial da delegação, os jogadores simplesmente taparam com uma mão o logotipo do patrocinador no uniforme. Só quem manteve visível o símbolo foram integrantes da comissão técnica e dirigentes. Ali se iniciava um processo de desagregação que culminou com um clima de descaso de muitos durante a competição na Itália, onde a direção de futebol teve atuação muito deficiente. O fracasso não veio por acaso.
O que aconteceu e segue acontecendo em Porto Alegre é algo totalmente diferente, mas não menos grave. O mistério criado na entrevista do técnico Tite e com o silêncio dos jogadores obriga a uma tomada de posição forte após os dois jogos das eliminatórias. Não é preciso chegar aos microfones para dizer que uma séria divergência existe. Está claro. A imagem da contrariedade estava estampada na fisionomia do treinador em sua coletiva. As entrelinhas nas respostas permitem as mais diversas interpretações da situação e previsões para seu desfecho. Havendo vitórias contra Equador e Paraguai, cresce a força da posição dos atletas que não parece ser muito diferente da do comandante. Num contexto destes, perder a tão conturbada Copa América, mesmo em casa, precisa passar pelo radar da Seleção.