Abel Braga está de bem com a vida no Inter. Sua entrevista no Show dos Esportes desta quinta-feira (14) teve vários pontos em que isto foi notado. Fazendo retrospectivas de sua passagens no clube, ele recordou fatos alegres, outros nem tanto, e decisões difíceis que ele tomou. Quando perguntado sobre a colocação de jogadores jovens na equipe, especificando a necessidade de Lucas Ribeiro substituir Rodrigo Moledo, o treinador lembrou um de seus maiores acertos na profissão, mas que lhe custou horas de dúvida e até constrangimento.
O comandante colorado recordou quando, em 2014, após o time perder de 5 a 0 para a Chapecoense, ele precisou recorrer ao terceiro reserva do gol para colocar no lugar do veterano Dida, que havia sido expulso.
O reserva imediato Muriel estava machucado e o segundo suplente, Agenor, não tinha ritmo de jogo. Abel foi ao time B, consultou o preparador e seu ex-jogador campeão do mundo, Clemer, e colocou o jovem Alisson de titular na partida seguinte. A boa atuação diante do Fluminense fez o técnico manter o garoto, que não mais deixou a titularidade.
O que pode parecer que foi só motivo de alegria para Abel Braga, sendo orgulho cada vez maior nos dias de hoje com os títulos seguidos de Alisson, também gerou um peso para o técnico: "Eu acabei com a carreira do Dida, um dos maiores goleiros do mundo".
Esta passou a ser uma frase que o próprio Abel reconhece que o perseguiu naqueles dias e por algum tempo. Ele conta que ficou constrangido, mas que o tempo o fez ver que aquilo era natural, e que o ex-jogador do Corinthians, do Milan e da Seleção Brasileira, já na casa dos 40 anos, também encarou como normal.
Abelão recorda estas passagens porque sabe que, aos 68 anos, não precisa provar mais nada para ninguém. Sem ser perfeito, é um grande vencedor. No Inter, na atual passagem, está experimentando uma sensação única do ponto de vista profissional e passando pela experiência rara de trabalhar sob grande admiração, mas com tempo certo para sair. E está fazendo bem, quem sabe o suficiente para, ao deixar o Beira-Rio, colocar nas costas de seu sucessor, sem constrangimento, o pesado fardo de um bom trabalho a seguir.