Não causou tanta surpresa o fato de Luiz Felipe Scolari falar que vai torcer muito para o Inter ser campeão brasileiro. Quem o conhece jamais duvidará da autenticidade deste pensamento. O ex-técnico do Grêmio e da Seleção Brasileira faz questão de enfatizar que sua torcida transcende cores clubísticas e está focada diretamente no trabalho de seu colega e amigo Abel Braga. Pelo técnico colorado, Felipão admitiu que "vale até uma promessa de ir a Caravaggio".
Claro que a cena imaginada no cumprimento desta hipotética promessa mexeria com o Rio Grande do Sul e teria a atenção nacional. Imaginem o grande Felipão, símbolo de vitórias do Grêmio, pagando uma dívida de fé por uma conquista do Inter. Não é nada disso. A empolgação do treinador pentacampeão do mundo tem muito da excelente relação pessoal que existe com Abel e uma identificação. Luiz Felipe reconhece que o bom trabalho do amigo não só o ajuda no íntimo, na autoestima e para superar dramas individuais, como é emblemático para seus colegas e contemporâneos de campo, seja jogando como comandando.
Felipão e Abelão foram jogadores, ambos zagueiros, raçudos, viris e patrolaram muitos atacantes na década de 1970. Como técnicos já se enfrentaram inúmeras vezes, ganharam muito e seus currículos servem para colocá-los nas histórias de clubes e da Seleção Brasileira. Só que ambos enfrentam atualmente o rótulo de desatualizados. Um título do Inter de Abel Braga, como poderia ser de algum clube com Luiz Felipe Scolari ou mesmo Vanderlei Luxemburgo, revoga boa parte das teses que os rejeitam. Esta identificação os une muito num tempo em que se confunde modernidade com a nacionalidade ou com ideias nem sempre aplicáveis, mas cheias de sofisticação na nomenclatura.
O Inter de Abel carrega a torcida de Felipão e o representa. Esta é mais uma prova de quanto o trabalho do treinador colorado está chamando a atenção e angariando simpatizantes além dos torcedores colorados. Também mostra que o futebol admite muitas tendências e as mais diversas faixas etárias entre os técnicos, não importando onde nascem ou de onde vêm os profissionais. Há bons motivos para um símbolo do Grêmio pensar em promessa no caso de um título do Inter.