Erra quem pensa que disputa política de clube não entra em vestiário. Esta máxima pressupõe que jogadores, sob um bom comando e condições adequadas, ficam alheios às relações entre dirigentes e conselheiros. Não é assim. Os atletas, cada um ao seu jeito, observam atentamente o ambiente que os cercam e isto, por vezes, se reflete no campo de jogo. Não se trata de uma certeza de que aconteça, mas um sério risco que existe. Imagine-se um ambiente em que dois integrantes de uma mesma diretoria passam a ser concorrentes diretos para a presidência. O Inter pode viver esta situação.
A história colorada registra um episódio que ajuda nos argumentos que falam na não interferência da política no futebol. Em 1979, dias antes de ser campeão invicto do Brasil, o Inter teve uma eleição renhida em que o presidente de então, Marcelo Feijó, comandante da campanha, foi derrotado pelo oposicionista José Asmuz. Mais recentemente, entretanto, a simples aproximação das eleições e um trabalho político desastrado que estava sendo feito no futebol colorado coincidiu com o rebaixamento do clube em 2016. Ali, o ambiente político não chegou a ser de disputa, mas os próprios jogadores da época admitem que o que acontecia fora do vestiário influiu na derrocada.
O segundo vice-presidente do Inter, Alexandre Chaves Barcellos, é o nome a ser indicado por Marcelo Medeiros e pelo seu movimento para sucedê-lo. Isto é sabido. De outra parte, uma corrente distinta e apoiadora de Medeiros dentro da gestão quer que Alessandro Barcellos, o atual vice-presidente de futebol, concorra ao cargo. Todos fazem parte de uma mesma diretoria e se mostram harmônicos até aqui. O vestiário colorado os vê como uma coisa só. O que acontecerá se houver uma distensão absolutamente legítima, democrática e que não precisa ser litigiosa? A princípio, nada, mas na prática é dificílimo haver indiferença dos profissionais. Por mais que haja um dirigente executivo como Rodrigo Caetano, é necessário um trabalho extra.
É muito complicado em todas as áreas de atividade ver distensões em algo que precisa ser harmônico. Como ter num mesmo vestiário comandantes que se opõem? O meio do futebol simplifica relações e o questionamento de "quem manda?" ou "quem mandará?" estará na cabeça de todos. O difícil desafio colorado, independentemente do surgimento de outras candidaturas naturais que virão das oposições distantes da atual gestão, é fazer com que jogadores e comissão técnica não se contaminem com assuntos políticos do clube que influenciem no campo. A eleição é no final de novembro. Há tempo para blindar o ambiente, mas o prazo é o mesmo para uma contaminação.