
As grandes competições normalmente despertam um imenso sentimento de saudade. Busquemos aquelas que se realizam de quatro em quatro anos, por exemplo. Terminam edições de Copa do Mundo, Jogos Pan-americanos, campeonatos mundiais, Eurocopa e ficam recordações tão fortes que a gente já passa a viver o evento seguinte. Com a Olimpíada isto é mais forte e, em 2020, está apertando nosso coração.
Desde que me vi diante do maior evento esportivo do mundo, passei a ser mais feliz. Foram duas edições — já com muitas alegrias — trabalhando como produtor. Não há, contudo, como descrever o momento em que se está presente no grande cenário. De saída, na primeira Olimpíada como repórter, me deparei com os "Jogos do Centenário".
Mesmo que a norte-americana Atlanta não seja a mais deslumbrante cidade da história olímpica, 1996 tinha atrações de sobra como o Brasil do vôlei de praia com ouro e prata para as mulheres, o ponto mil do Oscar no basquete, a despedida do Joaquim Cruz, recorde de pódios e uma infinidade de outros fatos históricos. Junto disto, o desafio de relatá-los para que outras pessoas se apaixonem pelo esporte e delirem com ele, como aconteceu comigo.
De lá para cá, foram mais cinco edições da Olimpíada. A cada uma delas novos heróis, brasileiros e estrangeiros, outras histórias e façanhas mundiais, tudo na minha frente, como que reforçando a missão de relatar as situações em prol do cumprimento do dever. Lá, afinal, também estão sempre os melhores do mundo no jornalismo, jogando nas nuvens nossa responsabilidade.
Como não ter saudade de ver ao vivo um Carl Lewis, um Dream Team, Michael Phelps, Usain Bolt? É impossível não manter na retina os times dourados do Zé Roberto ou do Bernardinho, o brilho, mesmo sem medalha da nossa Daiane, a Mayra Aguiar comemorando aniversário duas vezes no pódio ou o Vanderlei Cordeiro de Lima chegando na maratona fazendo aviãozinho no mais antigo templo do esporte, o Estádio Panatenaico. Vi tudo isto a poucos metros de distância. Ouvi muitos hinos e vibrando com o brasileiro algumas vezes. E relatei para que os ouvintes da Gaúcha estivessem comigo.
Claro que para este ano no Japão já havia a dose natural da saudade olímpica em função do ciclo de quatro anos desde o Rio 2016. A ansiedade para receber mais uma carga de adrenalina só crescia, até que veio a pandemia. O adiamento fez a expectativa aumentar.
Temos mais um ano para ser saudosos, torcendo para que a nova ameaça surgida, do cancelamento dos Jogos, não se confirme; afinal, já estamos com saudade de Tóquio 2020 e queremos matá-la em 2021.