Que momento para os fãs de quadrinhos argentinos. No mesmo dia em que anunciou uma série de animação baseada nas tiras da Mafalda, icônica personagem criada por Quino (1932-2020), nesta terça-feira (6), a Netflix divulgou as primeiras imagens de O Eternauta, adaptação do homônimo clássico escrito por Héctor Germán Oesterheld (1919-1977) e desenhado por Francisco Solano López (1928-2011). Estrelada por Ricardo Darín, a minissérie com seis episódios tem estreia prevista para 2025 na plataforma de streaming.
Maior nome do cinema argentino, presente em quatro filmes indicados ao Oscar internacional — O Filho da Noiva (2001), o premiado O Segredo dos seus Olhos (2009), Relatos Selvagens (2014) e Argentina, 1985 (2022) —, Darín não atuava em uma série desde os tempos de televisão no país vizinho. A seu lado no elenco, terá nomes como Carla Peterson, o uruguaio César Troncoso e Marcelo Subiotto. A direção é de Bruno Stagnaro, que despontou com Pizza, Cerveja, Cigarro (1998, em coautoria com Israel Adrián Caetano). Martín M. Oesterheld, neto do quadrinista, foi consultor criativo do roteiro assinado por Stagnaro e Ariel Staltari. A produção é da K&S FILMS, que tem no currículo os longas Relatos Selvagens, O Clã (2015) e A Odisseia dos Tontos (2019) e a série Vosso Reino (2021-2023).
Publicada originalmente em capítulos semanais entre 1957 e 1959, O Eternauta é uma história de ficção científica apocalíptica. Após uma nevasca mortal matar milhões de pessoas, Juan Salvo e um grupo de sobreviventes lutam, em Buenos Aires, contra uma ameaça alienígena controlada por uma força invisível. O protagonista não é o típico herói do gênero: politicamente alinhado à esquerda, Oesterheld propõe um heroísmo coletivo, em oposição ao individualismo do sistema capitalista.
Em 1969, o roteirista lançou uma nova versão da HQ, agora com desenhos de Alberto Breccia, na qual acentua a leitura política de O Eternauta: os extraterrestres aludem à ditadura militar instaurada na Argentina em 1966. Em 1976, no ano em que começou uma outra ditadura militar no país, Oesterheld voltou a fazer parceria com López em O Eternauta II.
No Brasil, a editora Pipoca & Nanquim vai republicar, com um novo tratamento gráfico, o quadrinho original (ainda em 2024) e o volume II (em 2025). O Eternauta 1969 saiu pela Comix Zone.
Oesterheld foi combativo na arte (também com Breccia, assinou biografias de Che Guevara e Evita Perón) e na vida: filiado ao grupo guerrilheiro Montoneros, em 1977 acabou sequestrado, junto a suas quatro filhas e três de seus genros, pelas forças armadas. Seus corpos nunca foram encontrados.