Depois de ver O Faz Nada, maratonamos os 11 episódios — com meia hora cada — de Meu Querido Zelador (El Encargado, 2022), também disponível no Star+.
Primeiro porque queríamos assistir a mais uma série argentina ambientada em Buenos Aires. Segundo porque tem os mesmos criadores, Mariano Cohn e Gastón Duprat, cineastas dos filmes O Homem ao Lado (2011), O Cidadão Ilustre (2016), Minha Obra-Prima (2018, assinado só por Duprat) e Concorrência Oficial (2021). Terceiro porque adoramos o ator Guillermo Francella, 68 anos, que faz uma ponta memorável em O Faz Nada, coadjuvante de Ricardo Darín no oscarizado O Segredo dos seus Olhos (2009) e protagonista de O Clã (2015), como o patriarca de uma família que sequestrava e matava empresários na época da ditadura militar, e de Granizo (2022), comédia que uniu a cultura do cancelamento e o negacionismo da ciência.
Por último, mas não menos importante, porque meu colega e amigo Paulo Germano já vinha insistindo para eu dar uma chance — sua defesa apaixonada para a colunista Gisele Loeblein e a jornalista Carolina Pastl me convenceu.
Mas o PG não é o único apaixonado. Meu Querido Zelador valeu a Francella o prêmio Platino de melhor ator (também concorreu nas categorias de melhor minissérie e de melhor criador). E, no dia 20 de novembro, disputa o Emmy Internacional de melhor série de comédia.
A obra alinha-se a filmes como Parasita (2019) e Triângulo da Tristeza (2022) e à primeira temporada da série The White Lotus (2021), encenando uma disputa de classes: de um lado, uma elite insensível, que trata as pessoas como se fossem descartáveis, e patética em sua futilidade e sua hipocrisia; do outro, os trabalhadores, que precisam se virar como podem, às vezes até infringindo regras.
Como indica o título, a minissérie argentina gira em torno de uma figura tão comum quanto fascinante: o zelador de um prédio. O cargo costuma ser desvalorizado, mas seu ocupante pode ser muito poderoso, se souber usar o arsenal de informações que absorve. É o caso do personagem encarnado pelo ótimo Francella, Eliseo, há quase 30 anos trabalhando em um edifício da classe alta portenha.
Eliseo compensa sua solidão vivendo a vida dos outros moradores e complementa sua renda fazendo algumas falcatruas, como aproveitar a viagem de um condômino para alugar o apartamento a uma turista suíça. Prestativo ora por índole (ajuda os sem-teto da rua), ora por interesse, ele manipula seus vizinhos. Seu talento para a vigilância, a influência e a interferência será posto à prova quando, após entreouvir uma conversa suspeita da arquiteta Florencia (Malena Sánchez) com o advogado Zambrano (Gabriel Goity, perfeito no papel do crápula — nem sempre — dissimulado), o zelador descobre o plano do condomínio de construir uma piscina, que não só vai desalojá-lo de sua casinha no terraço: também implica sua demissão.
Agora, Eliseo tem de correr contra o tempo para identificar ou arranjar aliados até a próxima assembleia dos moradores.
P.s. com um convite: neste domingo, dia 12, faço minha estreia oficial na Feira do Livro de Porto Alegre. Às 17h, no Auditório do Memorial do RS, participo de um bate-papo com outro colega e amigo, o repórter Carlos Redel, para falar do meu primeiro livro, O Morcego e a Luz: 80 Anos de Batman no Cinema (disponível na banca 40 da Praça da Alfândega, a da editora BesouroBox). Logo depois, às 18h, no Pavilhão da Feira, tem a sessão de autógrafos. Será um prazer receber vocês!