
A Rádio Gaúcha tentou fazer um debate sobre a anistia nesta quinta-feira (17), ouvindo um deputado que a defende com unhas e dentes e uma deputada que é 100% contra. De um lado Luciano Zucco (PL) e do outro Maria do Rosário (PT). A ideia era que cada um expusesse claramente seus motivos para ser contra ou a favor, mas o que deveria ser um debate virou bate-boca.
Zucco abriu a discussão falando do caso de uma mulher de 72 anos, que está presa desde o início de 2023 e que, segundo ele, não depredou prédios públicos, apenas participou da manifestação de 8 de Janeiro. Em seguida, lembrou de manifestações violentas do MST no passado e passou a criticar o governo.
Como no início a mediadora Andressa Xavier disse que eles poderiam se interromper, confiando na civilidade dos dois, Maria do Rosário cortou o colega e foi chamada de "desequilibrada" — uma expressão que já se ouviu muitas vezes no Congresso quando um homem quer desqualificar uma mulher.
A partir desse momento, os dois passaram a se atacar e a mediadora quase teve de chamar o intervalo comercial para que se acalmassem. Maria do Rosário disse que a anistia era inaceitável porque entre os presos estão pessoas que atentaram contra a democracia. Ela também vinculou os atos de 8 de Janeiro a outros que, na avaliação da Procuradoria-Geral da República, tinham por objetivo impedir a diplomação e a posse do presidente Lula.
Zucco insistiu que a anistia era necessária para “pacificar o país”, “virar a página” e atender ao clamor “da maioria dos brasileiros”. Rosário contestou e lembrou de recente pesquisa mostrando que 56% dos entrevistados são contra a anistia. O bate-boca não cessou nem no intervalo e ao final restou a impressão de que os ouvintes favoráveis e contrários à anistia não mudaram de posição.
A titular deste espaço sempre foi contra a anistia, por considerá-la um estímulo a futuros atos golpistas por quem não concordar com o resultado de uma eleição. Nenhum dos que foram à Praça dos Três Poderes naquele domingo estava lá por acaso.
Foram instados a participar de uma manifestação contra o governo e pediam intervenção militar. Depredaram prédios públicos, vandalizaram obras de arte, defecaram no plenário do Supremo Tribunal Federal. A maioria dos presos já está em casa, seja porque fizeram acordo com o Ministério Público, seja porque foram condenados a penas de um a dois anos de prisão, já cumpridas.
A anistia que querem os bolsonaristas não é só para “velhinhas de Bíblia na mão”, como dizem os defensores do perdão. É também para os cabeças da trama golpista que ainda não foram condenados, mas provavelmente o serão. Não teve golpe porque as Forças Armadas não embarcaram na aventura, mas quem tentou desvirtuar o artigo 142 da Constituição não pode ficar impune.