
Herdeiro de uma situação caótica depois da gestão de José Otávio Germano (PP), que renunciou ao mandato em dezembro de 2023, o prefeito de Cachoeira do Sul, Leandro Balardin (PSDB), fez um dramático pedido de socorro ao governador Eduardo Leite nesta quinta-feira (6).
Solicitou, especialmente, recursos para a reconstrução de pontes e estradas no interior do município e liberação de prédios do IPE e do Daer, que estão desocupados, para aliviar os gastos com aluguel, que somam R$ 1,5 milhão por ano.
À coluna, o prefeito traçou um cenário de dificuldades decorrentes dos desacertos da gestão anterior. Além de pontes em situação precária, prédios públicos com problemas estruturais, equipamentos da prefeitura sem funcionar e um déficit previsto para atingir os R$ 66 milhões. É um quadro que ele define como "um estado de guerra".
Balardin assumiu a prefeitura em janeiro deste ano e ainda enfrenta as consequências desastrosas da gestão de Germano, que renunciou após diversos escândalos envolvendo suspeita de fraudes em licitações, corrupção ativa e passiva, concussão e crimes de responsabilidade. Com Germano, que também tinha envolvimento com drogas e prostituição, inclusive com suspeitas de transportar entorpecentes em veículos oficiais, caíram também cinco secretários e três assessores diretos, entre eles os titulares da Fazenda, da Administração e do Planejamento.
Pouco mais de um ano depois, Balardin recebeu o caixa da prefeitura com a previsão de um déficit classificado por ele como "astronômico". A cidade de 80 mil habitantes na Região Central do Estado encerrou 2024 com R$ 7 milhões negativos, e prevê encerrar 2025 com um prejuízo de R$ 66 milhões, por dívidas na previdência dos servidores, contas atrasadas e queda de arrecadação do ICMS.
— Secretaria de Obras sem nenhuma máquina funcionando, carregando cimento em carro ruim, toda a frota deteriorada. Tem prédios do município com o telhado caindo. Sede da Secretaria da Educação tem problemas de infiltração, quase 90% das escolas não tem PPCI e precisam de reformas da rede elétrica. É um boleto por hora que chega. A situação é essa, uma deterioração da prestação de serviços públicos. É um estado de guerra. A cidade chegou no fundo do poço, aliás, passou do fundo. — relata Balardin.
Outro problema enfrentado pelo novo mandatário é na busca por recursos para Cachoeira do Sul. Em função do caso envolvendo o ex-prefeito, a imagem da cidade ficou manchada, e faz com que poucos políticos se sintam confortáveis em apoiar o município com emendas:
— Temos 39 pontes do interior praticamente deterioradas, e os recursos perdidos passam de R$ 10 milhões para essas pontes. Chego em Brasília e os deputados perguntam: "Como eu vou mandar dinheiro se vocês perdem, não cumprem projeto?". Existe um dano moral, e precisa ser revertida a credibilidade da política local, perante o Estado, Assembleia, Congresso. Visitei 30 gabinetes de deputados, quase todos me disseram que Cachoeira está "suja".
Com apoio de 40,22% da população cachoeirense, Balardin foi eleito na sua quarta tentativa, e recebeu um voto de confiança da população para reverter o cenário da cidade. Para isso, o prefeito diz que trabalha cerca de 17 horas por dia para dar conta de todas as demandas, e trabalha na motivação e confiança dos servidores e da comunidade.
— Urnas deram uma esperança no meu nome. Começo a trabalhar às 5h30min da manhã e vou até as 22h, meia-noite. Todos os dias. É uma agenda muito extenuante, vistoriando obras, conversando com servidores, pedindo voto de confiança para recuperar a cidade. Essa é a missão, me sinto muito bem acolhido, porque a população sabe que não tem saída. Apresentamos projeto de reforma na Câmara para reduzir gastos, e agora em março vamos apresentar novos projetos para amenizar o déficit desse ano e conseguir honrar pelo menos a folha de pagamento.
Leite disse ao prefeito que pode contar com o Estado. Durante a audiência com o governador foi assinado com a Secretaria da Saúde acordo para a criação de um Centro de Assistência ao Autista (CAS). Hoje, moradores do município com Transtorno do Espectro Autista são atendidos em Caçapava do Sul e precisam viajar em veículos antigos e sem ar-condicionado.