
Sorte a nossa que os analistas do mercado financeiro erram mais do que acertam nas suas previsões e que os investidores (não os especuladores) não tomam suas profecias como sentenças incontestáveis.
Se assim não fosse, quem investiria um dólar furado neste Brasil de mais de 200 milhões de habitantes, uma das maiores economias do mundo? Quem plantaria soja, trigo ou milho? Quem abriria uma fábrica de automóveis ou colocaria bilhões na produção de energia eólica? Quem entraria nas licitações para construir estradas ou estender linhas de transmissão de energia elétrica?
A pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira (19) mostra que, aos olhos do "mercado financeiro", essa entidade que traça nossos destinos, o Brasil está mergulhado no caos. Não importa que o nível de emprego seja recorde, que o PIB tenha crescido 3,4% em 2024 (contrariando as previsões dos mesmos analistas), que a inflação esteja sob controle, mesmo que acima da meta por conta do aumento do preço dos alimentos.
O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo, diz que uma pesquisa como essa afugenta investidores. Que, mesmo diante de indicadores sólidos, fica difícil vender o Brasil como um bom destino para as empresas implantarem seus projetos. Às previsões catastrofistas, somam-se problemas reais, como o custo Brasil, a insegurança jurídica e a elevada carga tributária.
Convencionou-se dizer que o mercado é assim mesmo, pessimista, porque cuida do dinheiro dos outros e precisa pensar nos piores cenários. A dúvida é onde termina o pessimismo e começa o catastrofismo. Porque a pesquisa Quaest ouviu 106 fundos de investimentos com sede em São Paulo e no Rio de Janeiro, e o resumo é uma tragédia grega: 93% dos agentes do mercado acreditam que a política econômica vai na direção errada, 83% dizem que a economia vai piorar nos próximos 12 meses e 58% acreditam que o Brasil corre risco de entrar em recessão.
O mercado e o presidente Lula têm uma desavença antiga. Ele não perde oportunidade para esculachar os agentes que dão palpites sobre a economia. E eles, os agentes, têm horror ao governo Lula e a sua disposição para adotar medidas que agradam os beneficiários (como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, o Bolsa Família e outras políticas sociais) em vez de priorizar o combate ao déficit público.
De fato, o déficit deveria ser uma preocupação de todos nós, porque gera inflação e provoca aumento da taxa de juros, como estamos assistindo agora. Isso é diferente de olhar o Brasil só com o viés negativo. Pela pesquisa, 93% acreditam que a política econômica vai na direção errada, 88% dos entrevistados avaliam negativamente o governo Lula e 58% não têm bom conceito sobre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Só o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, ainda não caiu em desgraça (tem 45% de aprovação) porque está conseguindo manter o juro na estratosfera, contra a vontade do presidente. Aliás, Galípolo não faz nada de diferente do seu antecessor, Roberto Campos Netto, mas Lula perdeu o seu malvado favorito e não tem a quem culpar pelo juro alto.