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A menos de dois anos do término do mandato, o governador Eduardo Leite apresentou, enfim, um plano estruturado para melhorar a educação no Rio Grande do Sul, com metas que vão além do seu governo. Tivesse o plano sido apresentado ao final de 2019, o Estado já estaria colhendo os resultados, mas foram necessários seis anos para se chegar ao que deveria ser um projeto para o primeiro mandato.
Em defesa de Leite, é necessário lembrar que ele assumiu com os salários em atraso e logo no segundo ano de governo enfrentou uma pandemia que piorou o que já era ruim. O Rio Grande do Sul, como de resto nenhum Estado brasileiro, não estava preparado para aulas remotas. Os anos de 2020 e 2021 foram praticamente perdidos e ainda hoje o impacto da pandemia e da falta de foco nos dois primeiros anos de governo se refletem nos resultados.
Quando desembarcou no Estado, a secretária Raquel Teixeira encontrou um quadro de terra arrasada, não só pela pandemia, mas pela falta de informações sobre a situação dos alunos e das escolas. Seu antecessor, Faisal Karam, era um político sem experiência na área, repetindo o critério de escolha de outros governos e que se mostraram equivocados.
De lá para cá, o governo lançou o programa Avançar na Educação, mas avançou pouco. Ampliou os investimentos, mas não conseguiu dotar as escolas de estruturas minimamente compatíveis com as necessidades dos alunos, como se viu na semana passada com a polêmica do adiamento das aulas por causa do calor excessivo.
Nesse episódio, aliás, faltou sensibilidade ao governador, à secretária e às coordenadorias de Educação. O que não foi resolvido pelo bom senso virou disputa judicial, quando bastaria ter adiado a retomada das aulas seguindo a previsão do tempo — nem um dia a mais, nem um dia a menos.
É verdade que há programas e projetos em andamento com potencial para produzir resultados, como o da concessão de bolsas para estimular a permanência na escola e o de estímulo à formação de professores. Falta, no entanto, engajar os professores no processo de formação continuada. O desinteresse pelos vídeos oferecidos pelo governo mostra que esse método não está funcionando, e que será necessário pensar em outra forma de melhorar a didática para que alunos hiperconectados sintam-se atraídos pelas aulas hoje dadas com métodos do século passado.
Para que os planos e metas apresentados nesta terça-feira com pompa e circunstâncias tenham consequências, será necessário passar do discurso à ação imediatamente, vencendo a burocracia não apenas em relação às obras, mas também na implementação de medidas para tornar mais efetivo o processo de aprendizagem.
O “compromisso” de, em 10 anos, colocar o Rio Grande do Sul entre os três primeiros no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) nos três níveis (Fundamental 1, Fundamental 2 e Médio) é apenas uma carta de intenções que não depende apenas de Leite e de sua equipe. É meta para ser cumprida por dois governos e meio, em um Estado que não tem tradição de continuidade — a reeleição do governador foi uma exceção.
Para encaminhar o cumprimento da meta em 10 anos é preciso que o salto ocorra agora. Uma medida do tamanho do desafio é a necessidade de um crescimento de 41% no Ideb do Ensino Médio para se chegar à meta.
É certo que avanços na educação exigem tempo e continuidade, como mostra o Ceará, mas Leite precisa focar no que vai entregar até 31 de dezembro de 2026. O próximo Ideb é a representação numérica do avanço (ou retrocesso) na aprendizagem e no combate à evasão e à repetência.
A régua hoje é tão baixa que a meta de elevação das notas no Ideb soa como excessivamente modesta: ampliar até 2035 as notas de 5,8 para 6,7 no Ensino Fundamental 1, de 4,7 para 6,3 no Ensino Fundamental 2 e de 3,9 para 5,5 no Ensino Médio.