Eram 14h39min, horário do Brasil, 12h39min em Washington, quando Donald Trump anunciou que a “era de ouro” dos Estados Unidos acabava de começar. Foi o desfecho de um discurso interrompido várias vezes pelos republicanos em maioria no Capitólio. Nos trechos mais alarmantes, os ex-presidentes Barack Obama e Joe Biden, e a vice que acaba de deixar o cargo, Kamala Harris, não acompanharam os aplausos. Trump fez um discurso megalômano, como fora sua campanha vitoriosa, e assustou os defensores do meio ambiente com seus primeiros anúncios.
Depois de declarar emergência nas fronteiras, para impedir a entrada de imigrantes, e de anunciar que colocará as Forças Armadas para atuarem contra a imigração ilegal, o 47º presidente dos Estados Unidos mandou um recado assustador ao mundo. Declarou emergência energética e anunciou uma espécie de “liberou geral” para os combustíveis fósseis. Disse que os Estados Unidos voltarão a ser um país manufatureiro, com incentivos à produção de carros movidos a qualquer tipo de combustível.
— Teremos mais petróleo e gás do que qualquer país na terra. Usaremos nossas reservas para exportar — anunciou Trump, sem qualquer preocupação com emissões de carbono, aquecimento global ou emergência climática, ainda que tenha mencionado por alto os incêndios na Califórnia.
Disse que o petróleo é “ouro líquido” e que ao acabar com a lei ambiental vigente nos Estados Unidos o país será cada vez mais rico. O trecho que deve preocupar os exportadores brasileiros (e do mundo todo) veio logo a seguir, com uma declaração bombástica:
— Vamos taxar os países estrangeiros para enriquecer nossos cidadãos. Vamos encher os cofres de dinheiro das tarifas.
Não disse de quanto será a sobretaxa, mas confirmou o que afirmava antes da posse: quem quiser vender para os Estados Unidos vai ter de se submeter às novas regras.
Depois de anunciar uma medida para acabar com todo e qualquer tipo de censura no país, para garantir a liberdade de expressão, Trump avisou que vai acabar com a “engenharia social de gênero” nas empresas e nos órgãos públicos. Traduzindo, significa acabar com as políticas de cotas.
— A partir de hoje, tudo será baseado no mérito. Na América, teremos a apenas dois gêneros: masculino e feminino — discursou Trump, levando os conservadores ao delírio.
Conhecido por suas posições antivacina em meio à crise da covid-19, Trump anunciou que a vacina deixará de ser obrigatória e que vai pagar os salários atrasados dos soldados que tiveram o pagamento cortado por não se vacinar.
— Vamos impedir as Forças Armadas de tratar de questões de gênero. Assim como em 2017, teremos a maior força militar do mundo. O papel das nossas Forças Armadas é vencer e derrotar os inimigos dos americanos. Encerraremos guerras que nunca mais vamos entrar. Quero ser um unificador, um pacificador — discursou.
O que parecia ser uma fanfarronice — a retomada do Canal do Panamá — foi tratada como uma das prioridades:
— A América vai tomar o seu lugar como nação mais poderosa do mundo. Vamos mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América. Vamos pegar de volta o Canal do Panamá.
Justificou que hoje o Canal que liga os oceanos Pacífico e Atlântico é administrado pela China, com prejuízos aos navios americanos. E prosseguiu:
— Vamos agir com coragem e vigor. Nós vamos expandir nossos territórios. Teremos lindos e novos horizontes. Vamos colocar nossas estrelas e listras (da bandeira) no planeta Marte.
O discurso sobre a grandeza dos Estados Unidos ante a irrelevância dos outros países continuou:
— A ambição é a vida de uma nação. Nossos ancestrais foram pioneiros. Ninguém chega perto do que nós somos. Se nós trabalhamos juntos, não tem nada que não possamos fazer. Nos Estados Unidos, o impossível é o que fazemos de melhor. Estamos à beira dos melhores quatro anos da história dos Estados Unidos. Nosso poder vai evitar todas as guerras. Vamos vencer como nunca partir deste momento. Nossa era de ouro acaba de começar.