Cheira a oportunismo de véspera de eleição o anúncio do presidente Lula de abertura de uma linha de crédito especial para socorrer os comerciantes de São Paulo prejudicados pelo apagão. Esse dinheiro sairá de um fundo inicialmente destinado ao Rio Grande do Sul, cujas empresas passaram não por um apagão, mas pela maior catástrofe climática da história. Alguém poderá dizer que todas as empresas prejudicadas foram socorridas, mas não é verdade: o dinheiro do Pronampe, liberado a conta-gotas, mal chega nos bancos e já desaparece.
Criticar o anúncio de uma linha de crédito a uma semana da eleição não é ciúme federativo. É a constatação de que não faria diferença — exceto do ponto de vista eleitoral — anunciar o socorro no dia 28 de outubro, para evitar a suspeita de tentativa de favorecimento do candidato do presidente, Guilherme Boulos (PSOL), que disputa o segundo turno com o prefeito Ricardo Nunes (MDB).
O apagão em São Paulo virou tema de campanha, com Boulos culpando o governador Tarcísio Freitas, padrinho político de Nunes, e o prefeito empurrando a culpa para o governo federal. Nesta sexta-feira (18), Lula disse que não quer saber de quem é a culpa, quer saber é quem vai dar a solução.
O dinheiro, esclareceu o presidente, será destinado a pequenas empresas que perderam equipamentos ou produtos congelados. Os consumidores em geral terão de cobrar os prejuízos da Enel, a concessionária do serviço de energia em São Paulo, que demorou seis dias para restabelecer o fornecimento em partes da cidade.
Em 16 de janeiro deste ano, um temporal varreu o Rio Grande do Sul e deixou milhares de clientes da Equatorial e da RGE sem energia elétrica. Ali, o governo não propôs crédito especial para empresas prejudicadas. A situação é mais parecida com essa do que com a enchente de maio, em que empresas perderam estoques, máquinas, prédios e faturamento.