
No conteúdo e no tom, o presidente Lula acertou em cheio em seu discurso na abertura da assembleia-geral da ONU. Não disse nada de inédito, mas quem redigiu o texto costurou de tal forma que até quando tratou de assuntos domésticos, como a enchente que arrasou o Vale do Taquari, o presidente falou pelo mundo. Porque não há como dissociar das mudanças climáticas os fenômenos extremos que se verificam neste ano de 2023 no Brasil, nos Estados Unidos, no Canadá, na Europa ou na Líbia.
Falou de energias renováveis e da Amazônia, que é o tema brasileiro que mais interessa aos olhos do mundo e que tem sido assunto obrigatório nos discursos na ONU e em outros foros internacionais. E pediu ajuda dos países ricos para manter a floresta em pé, como garantia de equilíbrio para o planeta.
Lula tocou na ferida que os líderes dos países desenvolvidos muitas vezes querem evitar quando lembrou que os 10% mais ricos da população mundial são responsáveis por quase metade de todo carbono lançado na atmosfera. É fato, como atestou a checagem feita pelo jornal O Globo quando o discurso terminou.
A fala foi baseada em estudo do economista francês Lucas Chancel, do World Inequality Lab, em 2021, sobre a desigualdade nas emissões de gases de efeito estufa entre 1990 e 2019. O estudo concluiu que os países mais ricos são os principais responsáveis pelas emissões globais. De acordo com a pesquisa, os 10% mais ricos da população global geraram quase 48% das emissões globais em 2019.
Como fizera em sua estreia na ONU, em 2003, Lula voltou a falar de fome. Vinte anos depois, o problema se agravou e, segundo o presidente, afeta 735 milhões de pessoas no mundo. Os dados são da própria ONU, que não tem conseguido avançar em seus programas de combate à fome e a miséria. No Brasil mesmo, a situação hoje não é muito diferente da de 2003, mas já não existe um programa Fome Zero.
A despeito da adoção de políticas sociais que mitigam o problema da fome, a distribuição da riqueza no mundo (e no Brasil não é diferente) segue concentrada em poucas mãos.
—O mundo está cada vez mais desigual. Os dez maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade— disse Lula na ONU.
Não está se falando dos 10% mais ricos, conceito que incluiria pessoas de classe média, mas em 10 pessoas físicas mesmo.