Tanta foi a pressão e a exposição ao ridículo que só restou aos vereadores de Porto Alegre firmar um acordo para revogar a lei que instituiu o Dia do Patriota, a ser comemorado em 8 de janeiro, no que faria mais sentido chama de Dia da Infâmia, pelos atos antidemocráticos praticados em Brasília.
Que sirva de lição para vereadores afoitos e prefeitos omissos: um projeto de lei só faz sentido se for para qualificar a vida na cidade e dos seus moradores. Há os que não servem para nada e são aprovados mesmo assim para agradar um setor ou outro, mas não chegam a causar prejuízo. São projetos que, no popular, se diz que "não fedem e não cheiram".
E há os que nascem da vontade do seu autor de aparecer a qualquer custo, de provocar e de impor a vontade de uma minoria, e que mancham a imagem de um indivíduo, de um grupo político e de uma instituição.
É nessa categoria dos projetos nocivos que se enquadra a malfadada lei que instituiu no calendário oficial de Porto Alegre, o Dia do Patriota. E por que escolheram o 8 de janeiro? Porque nesse dia um bando de radicais invadiu o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Os vândalos quebraram móveis e obras de arte, esparramaram sujeira, fizeram selfies debochando das instituições, inconformados com o resultado da eleição. Acabaram presos e agora se julgam injustiçados.
Os defensores desse bando que atentou contra a democracia no 8 de janeiro vivem em um mundo paralelo. Alimentam-se de fake news distribuídas nos canais de sua confiança e, a despeito dos vídeos e fotos e da identificação dos presos, espalham que os vândalos eram infiltrados, que foram plantados pelos aliados do presidente Lula para promover a baderna.
Quem seriam, nessa versão, os bolsonaristas nas imagens do 8 de janeiro? Somente velhinhas beatas de Bíblia na mão e velhinhos enrolados na bandeira do Brasil. Dos brutamontes que derrubaram grades, subiram em mesas, danificaram quadros, quebraram móveis e objetos não se fala.
Pois são esses "patriotas" de meia pataca que o ex-vereador Alexandre Bobadra (PL) quis homenagear com um projeto que deveria ter morrido no nascedouro. Mesmo sem pé nem cabeça, passou por três comissões da Câmara e foi parar na mesa do prefeito Sebastião Melo. Imaginando que se silenciasse não sujaria as mãos, Melo silenciou e o texto voltou para a Câmara. Foi sancionado por Hamilton Sossmeier (PTB), que agora costurou o acordo para a revogação coletiva, de modo que nenhum vereador tenha protagonismo na limpeza da imagem da Câmara com ácido muriático, porque clorofina não basta.
Quem são os vereadores responsáveis
Como o projeto não foi votado em plenário, não existe uma lista dos cúmplices de Bobabra. Quantos votos teria se fosse a plenário? Não se sabe. Dificilmente passaria, mas teria o apoio de uma ala que compactua com a invasão do 8 de janeiro.
Na Comissão de Constituição e Justiça, o projeto passou com cinco votos favoráveis e duas abstenções. Votaram a favor o relator Idenir Cecchim (MDB) e os vereadores Comandante Nádia (PP), Ramiro Rosário (PSDB), Márcio Bins Ely (PDT) e Thiago Albrecht (Novo). Não votaram os vereadores Clàudio Janta (Solidariedade) e Engenheiro Comassetto (PT).
Na Comissão de Educação, Cultura, Esporte e Juventude (Cece) votaram a favor o relator Mauro Pinheiro (PL) e os vereadores Gilson Padeiro (PSDB) e Giovane Byl (PTB). Não votaram os vereadores Giovani Culau (PCdoB) e Jonas Reis (PT).
Por fim, na Comissão de Defesa dos Direitos do Consumidor, Direitos Humanos e Segurança Urbana (CEDECONDH), votaram a favor o relator Alvoni Medina (Republicanos) e o vereador Cassiá Carpres (PP). Votaram contra os vereadores Pedro Ruas (PSOL) e Alex Fraga (PSOL). Alexandre Bobadra (autor do projeto) e Conselheiro Marcelo (PSDB) não votaram nessa comissão.