Neste domingo (20), eu deveria estar a caminho de Porto Seguro, na Bahia, lugar escolhido para descansar depois de uma cobertura intensa como foi a da eleição deste ano. Tinha planejado passar cinco dias em São Paulo, onde vive meu filho, antes de me jogar na rede e entrar no ritmo suave dos baianos, tomando água de coco à beira do mar azul. Não será assim porque no meio do caminho tinha uma pedra e, em nome da transparência que sempre marcou minha relação com leitores, ouvintes e telespectadores, quero compartilhar meu próximo desafio.
Em 2019, fui diagnosticada com um linfoma não-Hodgkin folicular de grau 1. Nestes três anos, monitorei o bicho com acompanhamento médico permanente, sem precisar de tratamento, fazendo exames regulares que mostravam crescimento extremamente lento. Na última tomografia, no entanto, os linfonodos haviam crescido fora do esperado e foi preciso fazer novos exames que confirmaram a transformação do linfoma para um tipo que exige tratamento. É o que farei a partir de segunda-feira (21). Mantive o passeio em São Paulo, mas as férias na Bahia ficarão para depois que essa tempestade passar.
Como serão seis ciclos de quimioterapia (um a cada 21 dias) e cada pessoa reage ao tratamento de uma forma, ainda não sei qual será o impacto na minha rotina de trabalho. Se depender da minha vontade, vou trabalhar sempre que puder, inspirada nas queridas amigas Alice Bastos Neves e Cristina Ranzolin, que fizeram tratamento semelhante, alternando dias de descanso com as atividades profissionais. Temos em comum a paixão pelo jornalismo, a alegria de viver e a força para enfrentar desafios.
Como sei que alguns dias serão melhores, outros piores, conto com a compreensão do público para eventuais ausências. O carinho que estou recebendo da família, dos amigos e dos meus líderes no Grupo RBS contribuem para que eu esteja muito confiante no prognóstico dos meus médicos de confiança de que tudo vai dar certo.
Nesta hora, agradeço por ter um plano de saúde que me permitiu fazer os exames em tempo recorde. E penso nas pessoas que esperam meses e até anos por um diagnóstico. Como sempre cobrei políticas públicas para que os dependentes do SUS tenham as mesmas possibilidades de quem tem plano de saúde ou pode pagar, seguirei vigilante na defesa daquilo em que acredito.
Como voluntária do Instituto do Câncer Infantil, convivo há muito tempo com crianças que fazem quimioterapia e sei o quanto a ciência evoluiu nos últimos anos. Agora, saberei melhor ainda a importância da mão estendida, do abraço e do apoio.