Na condição de autoridade máxima do Estado onde o cantor Seu Jorge foi alvo de uma manifestação racista na última sexta-feira (14), durante show no Grêmio Náutico União, o governador Ranolfo Vieira Júnior telefonou para o artista e pediu desculpas em nome dos gaúchos. O telefonema estava previsto para o início da tarde, mas atrasou porque houve um desencontro, já que os dois tinham voos e ficaram incomunicáveis por algum tempo. A conversa, definida por Ranolfo como amistosa, durou cerca de 15 minutos.
No vídeo que publicou na noite de segunda-feira (17), falando sobre o ataque racista que sofreu no show do União, Seu Jorge usou a bandeira do Rio Grande do Sul como pano de fundo e disse que não reconhecia naquelas manifestações o Estado que ele aprendeu a admirar. Citou vários personagens da cultura e do esporte gaúchos, como Elis Regina, Luis Fernando Verissimo e Ronaldinho Gaúcho.
Pela manhã, quando anunciou que falaria com Seu Jorge, Ranolfo garantiu que a polícia, sem dúvida, vai chegar a quem cometeu esses crimes. O chefe de Polícia, Fábio Motta Lopes, divulgou nota esclarecendo que, mesmo o cantor não tendo formalizado denúncia, o crime de racismo ofende a toda a coletividade.
O delegado informou que "um vídeo em que parte da plateia aparece chamando o cantor de macaco já está sendo analisado pela equipe de investigações da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância" e que ainda nesta terça-feira seriam solicitadas imagens das câmeras de segurança do clube. Testemunhas deverão ser ouvidas ao longo da semana.
"Esse crime, previsto no artigo 20 da Lei 7716/89, independe de representação da vítima", diz a nota.
A secretária da Cultura, Beatriz Araujo, repudiou o episódio. Em nota, escreveu:
"Vivemos um momento muito difícil na história de nosso Estado, dias de intolerância e desumanidades. São inaceitáveis as agressões sofridas por Seu Jorge, um dos maiores artistas brasileiros. Nessa semana, a Secretaria da Cultura promove o lançamento da terceira edição do Festival Cinema Negro em Ação, que dá visibilidade e protagonismo ao audiovisual realizado por pessoas negras de todo o país. Nossa mensagem para o Brasil é de que o RS está disposto a defender suas políticas públicas culturais e continuar lutando por espaços de respeito e dignidade para todos. Reafirmamos o compromisso com o combate ao preconceito e ao racismo estrutural em nosso território."
O prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, que estava no Rio de Janeiro desde domingo (16), em um evento da ONU, se manifestou pelo Twitter:
"Desembarquei há pouco em Porto Alegre. Não acompanhei o evento do União até o show do Seu Jorge. Independentemente, reforço meu pleno repúdio a qualquer tipo de racismo, que é crime. O combate ao preconceito não pode ser politizado, e confiaremos na apuração policial dos fatos".
Não está claro o que Melo quer dizer com "o combate ao preconceito não pode ser politizado". É possível que se refira ao fato de a confusão ter começado porque Seu Jorge fez um gesto político durante o show, o "L", de Lula, com a mão e foi hostilizado por parte da plateia. Um grupo respondeu com "mito, mito, mito". Outro chamou o cantor de "macaco", "negro vagabundo" e "preguiçoso" e fez sons imitando macacos.
O ex-governador Eduardo Leite, candidato do PSDB ao Piratini, usou suas redes sociais para condenar o racismo. Em vídeo no Instagram, Leite disse que "o racismo machuca" e "não podemos ficar calados". E acrescentou:
"Minha solidariedade ao Seu Jorge, que respondeu à agressão sofrida com grandeza. Respeito e me somo à luta dele e à luta de todos aqueles que se insurgem contra o preconceito. Precisamos trabalhar mais ainda para combater a violência racial e avançarmos como sociedade".
O ex-prefeito de Porto Alegre José Fortunati também repudiou o racismo.
"Regina e eu somos fãs do Seu Jorge, 1 dos maiores artistas brasileiros da atualidade. Senti vergonha ao saber dos atos d intolerância e racismo ocorridos no União. Como ex-Prefeito de POA peço desculpas pelo ocorrido. Infelizmente alguns ainda não aceitam as diferenças. ABSURDO. Ao @seujorge nossa Solidariedade!", escreveu Fortunati.