No interior do Rio Grande do Sul, é raro encontrar alguém que nunca tenha ouvido falar de uma briga de bugio. Na disputa pela liderança do bando ou pela atenção da bugia, os animais gritam, urram e chegam ao ponto de jogar fezes um no outro. Com o perdão pela comparação escatológica, os últimos dias da campanha para presidente da República no horário eleitoral lembram uma briga de bugio. Os responsáveis pelo marketing das campanhas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Lula (PT) desistiram de tentar conquistar eleitores pelos méritos dos candidatos e apostam na desqualificação recíproca do adversário.
Todas as campanhas gastam fortunas com institutos de pesquisas e fazem não só sondagens quantitativas, para ver se batem com o que dizem os veículos de comunicação, mas testes com eleitores para ver o que funciona e o que não cola na propaganda de rádio e TV. Se optaram por esse caminho é porque devem ter elementos para acreditar que uma eleição se ganha no grito.
Ciro Gomes — que está longe de ser comparado a um monge budista — entra logo em seguida na propaganda para dizer que Lula e Bolsonaro tentam mostrar qual é o pior, sem apresentar propostas. Simone Tebet e Soraya Thronicke vão na mesma linha, mas as pesquisas indicam que o eleitor não quer saber de ponderação e, em vez de votar a favor de um, votará contra o outro no domingo (2).
Quem saberia dizer, às vésperas da eleição, quais são as propostas concretas dos líderes das pesquisas para a educação? Não essa abstração que é falar em “educação pública de qualidade”, mas para mudar o perfil da escola brasileira e fazê-la inovadora, atraente para os alunos e preparatória para a vida. Pode-se argumentar que a educação básica é de responsabilidade dos Estados e municípios, mas o MEC é (ou deveria ser) o formulador de políticas mais amplas.
Nas campanhas para governador também não se avança nesse ponto. Todos os candidatos têm um diagnóstico correto, de que a situação vai mal, que piorou com a pandemia, que é preciso oferecer escolas de turno integral, consertar ou reformar os prédios, melhorar a infraestrutura e valorizar os professores. Quando se pergunta “como”, a maioria descamba para a demagogia ou fala em “diálogo”.
Diálogo é bom e necessário em qualquer governo, mas cadê as propostas concretas para preparar diretores, qualificar professores e adotar medidas que deram certo em outros Estados? Não raro, ouve-se que precisamos voltar ao tempo em que o Rio Grande do Sul estava entre os primeiros do ranking em matéria de educação. Esse olhar para o passado não resolve o desafio do futuro. A escola dos anos 1970 não é referência para a geração conectada, nem é modelo para quem lembra qual era o tamanho da exclusão.
É desses problemas da vida real que os candidatos que se classificarem para o segundo turno terão se tratar. Sem gritaria e sem as táticas dos primatas.