Por mais consistentes que sejam os sinais de que o governador Eduardo Leite renunciará ao mandato para ser candidato a presidente da República pelo PSD, ainda faltam amarrar algumas pontas antes da decisão mais drástica de sua breve e vitoriosa trajetória política: a renúncia ao governo do Estado e a saída do PSDB. Entre uma agenda e outra nos Estados Unidos, o governador tem se dedicado à costura política, em conversas por telefone ou pelo WhatsApp.
A desistência do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, não alterou em nada o cronograma de Leite. Ele já sabia que Pacheco não seria candidato. Como a coluna registrou em 18 de fevereiro, os dois conversaram por telefone no dia 16 e Pacheco o saudou dizendo “Fala, meu presidente Eduardo Leite”. De mais a mais, Pacheco nunca assumiu a candidatura. Era preciso fazer o anúncio para limpar o terreno, já que até agora figurava na lista dos pré-candidatos.
Leite jura que em nenhum momento perdeu o sono nesta semana que está nos Estados Unidos - ele chegou na quarta-feira passada e só deve retornar na segunda-feira, isso se não conseguir antecipar o voo de Austin (Texas) para o Brasil. Seu compromisso oficial na South by Southwest, a SXSW 2022, é no sábado pela manhã, quando falará sobre os temas que vem tratando na viagem: desenvolvimento sustentável e inclusivo.
Se é verdade que ainda não decidiu quando baterá o martelo em relação ao que vai fazer, também é verdade que Leite descarta algumas das hipóteses ventiladas nos últimos dias e ri das especulações:
— Já inventaram tantas datas, tantos eventos, que parece que tem alguém sabendo mais do que eu.
O que é fato em meio a tantas especulações, segundo suas próprias palavras, ou informações obtidas por GZH com fontes próximas a ele: "não haverá anúncio no dia 14 de março, até porque ainda há conversas em andamento".
No retorno de Austin, o governador fará uma parada em São Paulo, para reunião com a direção do Banco Itaú. Nessa escala, aproveitará para conversar com políticos do PSDB e de outros partidos. É provável que se encontre com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, para uma conversa sobrea real disposição do partido de abraçar a proposta de terceira via.
Não haverá anúncio na reunião-almoço da Federasul, no dia 16 de março. Leite diz que não sabe se onde saiu essa especulação, considerada “fantasiosa”. Escolher uma das federações empresariais como palco do anúncio, e justamente aquela que mais o criticou durante a pandemia, seria desrespeitoso com as outras instituições, além de limitador do alcance do anúncio. Se for candidato, a decisão será anunciada com em ato específico, organizado de forma a garantir repercussão nacional.
Nunca passou pela cabeça de Leite ou de seus conselheiros anunciar candidatura no dia 1º de abril. Primeiro, pela obviedade de que, no calendário, esse é o dia dos tolos. Segundo, porque o governador considera desleal com os companheiros que aguardam sua decisão para trocar de partido ou rever planos de candidaturas, deixar o anúncio para o último dia.
Não haverá anúncio da candidatura em Austin, durante a palestra na SXSW. Poderia até ser disruptivo, mas não há mais tempo hábil para amarrar as pontas soltas até sábado. Ao mesmo tempo, seria desrespeitoso com os aliados e daria margem para críticas dos adversários o lançamento de uma candidatura a presidente do Brasil ser feito a partir dos Estados Unidos.
Preocupação com a própria sucessão
Entre as pontas que falta amarrar para tomar a decisão sem produzir danos está a própria sucessão no Palácio Piratini. O candidato natural seria o vice-governador Ranolfo Vieira Júnior, que migrou para o PSDB com essa intenção e irá para o PSD com Leite se essa for a opção do governador. Caso assuma o governo, o único cargo a que Ranolfo pode concorrer é o de governador.
Mesmo inclinado a dizer sim ao PSD, Leite não fecha totalmente a porta para outras possibilidades:
- Seguir no cargo até o fim e não ser candidato a nada neste ano;
- Concorrer à reeleição;
- Renunciar ao mandato sem sair do PSDB, contando que mais adiante João Doria irá desistir. Essa é a hipótese mais remota, porque Leite correria o risco de ficar sem nada. Além disso, para ser candidato a presidente é preciso mergulhar na pré-campanha logo no início de abril, para ter alguma chance de quebrar a polarização que hoje aponta segundo turno entre o ex-presidente Lula e o presidente Jair Bolsonaro.
O PSDB e outros partidos da base encomendaram uma pesquisa qualitativa profunda para avaliar o cenário eleitoral no Rio Grande do Sul. Essa pesquisa constatou que Leite é o nome mais forte entre os candidatos da base e que a avaliação do governo é boa, mas falta um candidato natural à sucessão de Leite.
Por essa mesma pesquisa, a candidata mais viável do PSDB, depois de Leite, seria a prefeita de Pelotas, Paula Mascarenhas, que também é refém do calendário: para concorrer ela precisa renunciar até 2 de abril. Como tem compromisso com Ranolfo, Leite só pediria para ele desistir se for em nome de uma coalizão mais ampla (com o MDB, por exemplo).