Na aldeia em que nasci, as aulas estão sendo retomadas com os cuidados necessários à segurança de toda a comunidade, e é emocionante constatar que a escola onde estudei nos três anos finais do Ensino Fundamental segue sendo um ponto iluminado na nossa pequena cidade. Escola pública – que nasceu da mobilização da nossa comunidade para que os adolescentes não precisassem migrar para outras cidades como tive de fazer aos 10 anos para continuar estudando –, a João Ferrari ocupa lugar de destaque nas minhas memórias afetivas. Hoje é um prédio de alvenaria, bem cuidado, que abriga crianças da cidade e do Interior, que a ela têm acesso graças ao transporte escolar.
Quando o Grupo Escolar João Ferrari teve autorização para abrir abrir a sexta série, que seria equivalente ao segundo ano do antigo ginásio, em 1972, eram duas turmas de mais ou menos 45 alunos, abrigados no salão paroquial da Igreja São Sebastião. Por um ano, as festas da igreja foram suspensas para que ali funcionasse a escola que me permitiu, depois de um ano em Tapera, ficar a apenas cinco quilômetros da casa da família. Tive colegas que vinham de mais longe, a pé, a cavalo, de bicicleta, de ônibus e, os poucos abastados, de carro. Pobres, ricos e remediados dividiam o mesmo espaço. Ainda dividem, porque até hoje nossa Campos Borges tem apenas escolas públicas.
Nossa diretora à época, Alourdes Ferrari Merlin, foi gigante na tarefa de superar as carências contando com a ajuda de uma comunidade que se desenvolveu a partir de escola e hoje é município, pela segunda vez administrado por uma mulher. Alegra-me saber que os pais ajudam a consertar a janela emperrada, a pintar as paredes, a limpar o pátio para esperar as crianças depois das férias. Reforço minha convicção de que comunidades comprometidas com a escola fazem toda diferença.
As escolas nunca mais serão as mesmas depois da pandemia que obrigou a dividir turmas, a alternar aulas remotas com presenciais, a colar fita adesiva para que uma criança fique a pelo menos 1m5cm de distância do coleguinha. Serão diferentes, mas cada vez mais essenciais.
O professor e a professora tiveram de rever seus métodos de trabalho, mas serão sempre a referência para os alunos. Pais e mães sem didática e sem vocação para ensinar descobriram na pandemia que o professor é insubstituível. Talvez essa tragédia global ajude a mostrar a países como o Brasil que passou da hora de corrigir um erro histórico e valorizar os professores como se valorizam outras carreiras, porque, ainda que seja óbvio, é preciso lembrar que são eles que formam todos os outros profissionais.