Se os ânimos já estavam acirrados com a anulação das condenações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Curitiba, a suspeição do ex-juiz Sergio Moro, declarada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, por três votos a dois, incendeia o debate político no Brasil.
No dia em que a preocupação número 1 dos brasileiros deveria ser com as 3.251 mortes por covid-19 registradas em 24 horas, cinco ministros do Supremo roubaram a cena. À primeira vista, é a implosão do que restou da Lava-Jato, depois do desmonte da força-tarefa e da deserção dos seus principais personagens, Moro e o procurador Deltan Dallagnol.
O voto decisivo para que Moro fosse declarado suspeito no caso do tríplex de Lula foi dado pela ministra Cármen Lúcia, que fez um cavalo de pau na sessão virtual. A ministra já havia dado seu voto favorável a Moro, mas mudou alegando que fatos novos a fizeram rever a posição.
Para confundir ainda mais a cabeça dos leigos, um dos votos favoráveis a Moro foi do ministro Edson Fachin, o mesmo que há duas semanas anulou as condenações de Lula com a alegação de que não poderia ter sido julgado em Curitiba. Fachin não inocentou Lula, mas o PT adotou essa narrativa, até porque a decisão permite que o ex-presidente seja candidato, já que não terá condenação em segunda instância até a eleição.
Quem conhece os meandros do Supremo sustenta que Fachin fez uma tentativa de salvar Moro e a Lava-Jato, imaginando que, remetendo os processos de Lula para Brasília, a ação questionando a conduta do ex-juiz perderia o objeto. O ministro Gilmar Mendes, que sempre foi um crítico duro de Moro, decidiu colocar o tema em pauta e aproveitou a sessão para desconstruir a imagem do desafeto.
Moro, que abandonou a magistratura para ser ministro da Justiça de Jair Bolsonaro e hoje trabalha como consultor, foi considerado suspeito por conta do vazamento de conversas com integrantes da força-tarefa da Lava -Jato, nas quais orientou procuradores. Essas conversas foram divulgadas pelo site The Intercept Brasil, a partir da ação de hackers.
Diante desse quadro, duas perguntas se impõem: o que acontecerá com os demais condenados na Lava-Jato? O que será feito com o dinheiro recuperado para os cofres públicos a partir de delações de corruptos e corruptores? Não custa repetir: é indiscutível que houve corrupção na Petrobras, superfaturamento de obras, pagamento de propina e combinações entre empreiteiras para lesar o Estado brasileiro.
Aliás
O recurso de Lula questionando a imparcialidade do ex-juiz Sergio Moro foi apresentado em 2018, quando ele abandonou o cargo para ser ministro da Justiça. A alegação foi de que a aceitação do cargo provaria que houve perseguição política para tirar Lula da disputa eleitoral.
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