O jornalista Paulo Egídio colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Com pendências financeiras que chegam perto dos R$ 4 milhões, o PTB do Rio Grande do Sul corre risco de sofrer uma debandada antes da eleição de 2022. Os dirigentes locais pressionam o diretório nacional a assumir a dívida e, se isso não ocorrer, a tendência é de que os principais líderes se transfiram para uma outra sigla no Estado.
Os problemas têm origem na eleição de 2014, quando a prestação de contas do partido foi desaprovada pela Justiça Eleitoral. Isso ocorreu porque o dinheiro doado ao PTB por pessoas em cargos em comissão foi repassado aos candidatos sem a identificação dos doadores originais.
Com a rejeição das contas, o PTB foi condenado a devolver R$ 1,6 milhão, a valores da época, ao Tesouro Nacional. Como os candidatos também foram condenados, ao longo do tempo, a devolver o montante recebido, a dívida foi assumida pelo partido na integralidade, somando cerca de R$ 3,2 milhões. Depois da condenação definitiva, houve duas tentativas de parcelamento — ambas geraram acréscimos de multas e pagamentos de honorários à Advocacia-Geral da União (AGU). Com isso, a pendência se aproximou dos R$ 4 milhões em valores atuais.
Sem condições de arcar com o débito, o PTB estadual começou a atuar para que a direção nacional assuma a pendência. Há cerca de um mês, a resposta foi negativa e, diante da inevitável insolvência do partido e da possibilidade de ter o acesso a recursos suspenso, deputados, dirigentes e principais líderes estaduais colocaram à mesa a hipótese de migrar para um outro partido.
O deputado Luís Augusto Lara, que preside o diretório local, reconhece que a tese é discutida entre integrantes do PTB, mas diz que, em princípio, não simpatiza com a ideia:
— Perderíamos a marca do PTB, construída pelo ex-senador Sérgio Zambiasi e por outras lideranças, que deram uma cara de solidariedade e lealdade ao partido.
Após uma mobilização de Lara, com apoio irrestrito dos demais deputados, o diretório nacional teria concordado em assumir o pagamento da dívida. Para esta quinta-feira (18), Lara aguarda um advogado do partido desembarcar em Porto Alegre. O objetivo é que o procurador compareça à sede da AGU na Capital e assuma, em nome do PTB nacional, o pagamento do débito.
Se não for amparado pela representação nacional, Lara promete convocar uma “ampla discussão” com deputados, prefeitos e vereadores para definir o futuro do grupo, que forma a seção mais forte do PTB no país.
Caso a opção seja pela migração, a tendência é de que os integrantes saiam em bloco, mas, a depender da estratégia eleitoral, é possível que deputados estaduais e federais migrem para partidos diferentes, para que as duas bancadas sejam competitivas na eleição de 2022.
O grupo que comanda o partido em Porto Alegre, liderado pelo deputado Maurício Dziedricki, estaria inclinado a se transferir ao Podemos, após insistentes convites da presidente nacional do partido, Renata Abreu. Presidente do PTB na Capital, Everton Braz admite convites de outros partidos, mas diz que o grupo não tem intenção de deixar a sigla:
— Nós temos uma história no PTB. Não há disposição de deixar o partido, a não ser que isso se torne uma situação insustentável, impossível de superar.
Aliás
Caso o grupo do deputado Maurício Dziedricki se mude para o Podemos, o ex-prefeito de Porto Alegre José Fortunati, que também foi convidado pela deputada Renata Abreu, deve descartar a ida para a legenda. Fortunati pretende concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados em 2022 e Dziedricki será candidato à reeleição. Ambos têm base eleitoral na Capital.
Sem temor
Presidente do PTB durante as eleições de 2014, quando a dívida foi gerada, o ex-prefeito de Canoas Luiz Carlos Busato diz ter “plena confiança” de que a direção nacional do partido vai assumir o débito do diretório estadual.
— Essa questão da dívida vai ser resolvida e está bem encaminhada com a direção nacional. Tenho certeza que isso não será um motivo para que alguém saia do partido — afirma.
Busato atribui as especulações sobre a migração de petebistas a outros partidos à perspectiva de disputar com mais chances as eleições de 2022, visto que o novo sistema eleitoral proíbe as coligações:
— Todos os partidos maiores, que têm deputados com densidade eleitoral elevada, terão dificuldade de formar nominata.
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