Foi o vice-presidente Hamilton Mourão quem deu a senha, em uma entrevista à Rádio Bandeirantes: passadas as eleições para as presidências da Câmara e do Senado, o governo deverá promover alterações no ministério “para que seja acomodada a nova composição política que emergir desse processo”. Tradução para quem não está familiarizado com a lógica de Brasília: o Centrão deve ganhar mais espaço no governo, para garantir votos no Congresso e barrar um eventual processo de impeachment.
Mesmo ressalvando que não tem sido ouvido pelo centro do governo e que não participa das definições, o vice admitiu que um dos ministros que podem ser substituídos é Ernesto Araújo, das Relações Exteriores. Não é de hoje que Araújo figura no topo da lista dos ministros que mais atrapalham do que ajudam. Seus frequentes embates com a China, com quem agora o presidente Jair Bolsonaro tenta reatar os laços rotos pelas patacoadas do chanceler e do filho número 3, são apontados por deputados da base como um obstáculo à permanência no cargo.
Há outro motivo para substituir Araújo: a necessidade de recompor as relações com os Estados Unidos com a ascensão do democrata Joe Biden ao poder. O ministro apostou todas as fichas na reeleição e Donald Trump e não construiu pontes com os democratas. Ser candidato a sair não significa que Araújo será demitido, até porque a liberação, pela China, da exportação de insumos para fabricação das vacinas garantiu-lhe alguma sobrevida.
Se for pelo desempenho, outro forte candidato a receber o bilhete azul é o general Eduardo Pazuello, ministro da Saúde que está sob investigação pela condução equivocada do combate à pandemia. Ainda que seja aquele que obedece, suas digitais estão na opção do governo em apostar na hidroxicloroquina (em detrimento da vacina), na reação tardia ao colapso de Manaus, com a morte de pacientes da covid-19 por falta de oxigênio, e no comportamento errático do governo, que tenta apagar (literalmente) o que disse e fez em relação a tratamentos.
A divulgação, pela Agência Reuters, de mensagens trocadas por integrantes do Ministério da Saúde, em junho, enfraquece ainda mais a posição de Pazuello. As mensagens mostram que o Ministério da Saúde resistiu em fechar o acordo com a AstraZeneca, para a compra da vacina que estava em desenvolvimento, porque havia a convicção de que o tratamento com cloroquina estava dando resultado. De lá para cá, o número de mortes mais que dobrou.
O fato de Araújo e Pazuello serem os mais cotados para cair não significa que a reforma ministerial ficará restrita a duas pastas. O ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni, que passou de homem forte do governo, como chefe da Casa Civil, a uma das figuras mais pálidas da Esplanada nos últimos meses, deve mudar de cargo.
Onyx reassumirá o mandato de deputado no final deste mês, para votar em Arthur Lira na eleição para a presidência da Câmara, e na volta deve deixar o Ministério da Cidadania, cobiçado pelo Centrão, para assumir a Secretaria-Geral da Presidência, vaga com a ida de Jorge Oliveira para o Tribunal de Contas da União.
Questionado pela repórter Débora Cademartori se havia a possibilidade de permanecer na Câmara, Onyx respondeu:
— Volto para o (Ministério da ) Cidadania dia 2/2.
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