Principal aposta do PSL na eleição para vereador em Porto Alegre, o candidato Alexandre Bobadra pisou na bola: apropriou-se de um consagrado jingle das campanhas do ex-prefeito e ex-senador José Fogaça, aproveitando-se da leve semelhança fônica das sílabas finais dos dois nomes. O refrão “Fogaça-a-a-a-á”, criado para a campanha de 1990, quando concorreu a governador, e reutilizado depois mediante pagamento à produtora, virou “Bobadra-a-a-a-á”.
Indignada com o desrespeito ao direito autoral, a esposa de Fogaça, Isabela, que também é cantora, perguntou:
— Se um candidato se acha no direito de roubar um jingle o que será que poderá fazer na Câmara de Vereadores? Faz parte da nossa história. Cada vez que usamos, tivemos de pagar aos autores, o que acho correto.
A produtora Jinga vai acionar o candidato na Justiça, por uso indevido da obra. Um dos sócios da produtora diz que o jingle não pode ser usado sem autorização. No caso, mesmo que o candidato do PSL tivesse pedido para usar, a Jinga não autorizaria, por entender que o jingle é vinculado ao nome de Fogaça.
Questionado pela coluna, o presidente do PSL, Ruy Irigaray, que acompanhava o candidato na carreata em que o jingle foi rodado, disse que Bobadra entendia que para jingle não existe direito autoral. O candidato chegou a mandar cópia de uma reportagem sobre paródia da música O Portão, de Roberto Carlos, feita pelo deputado Tiririca, na campanha de 2014, em que a Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu que não havia ilegalidade.
Bobadra disse que a ideia foi de seus apoiadores, com aval da assessoria jurídica do PSL, que entende não ser aplicável a lei do direito autoral em jingles de campanha e que o jingle foi usado na carreata e nas redes sociais, mas será excluído.
— Na verdade eu sou Bolsonaro, mas fã do Fogaça. Um jingle se faz por 300 pilas. Meus apoiadores acharam que não teria problema.
Um jingle de qualidade não se faz por R$ 300, porque a produtora precisa pagar os autores da letra e música e a equipe de produção.
Na Jinga, que prima pela originalidade, a música e a letra são criadas após um briefing sobre o que pensa o candidato e qual a mensagem que quer passar. Mesmo nos casos em que uma pessoa de outro Estado pede autorização para usar uma criação antiga, a adaptação é personalizada.
Relembre o jingle de Fogaça (este, usado à prefeitura em 2008)