A crise institucional mudou de patamar com a declaração de guerra do presidente Jair Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF), que obrigou os bombeiros a entrarem em ação para apagar o incêndio provocado por ele e pelo terceiro filho, o deputado Eduardo Bolsonaro. Entraram em cena o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que foi ao Planalto conversar com Bolsonaro, e o vice-presidente Hamilton Mourão. Em entrevista à repórter Andreia Sadi, da GloboNews, Mourão reafirmou que as Forças Armadas não pensam em dar um golpe, como pregam militantes bolsonaristas nas redes sociais e em manifestações de rua. O vice-presidente foi incisivo:
— Quem é que vai dar golpe? As Forças Armadas? Que que é isso, estamos no século 19? A turma não entendeu. O que existe hoje é um estresse permanente entre os poderes. Eu não falo pelas Forças Armadas, mas sou general da reserva, conheço as Forças Armadas: não vejo motivo algum para golpe.
Pela manhã, indignado com ordem do ministro Alexandre de Moraes, do STF, de busca e apreensão de documentos, computadores e celulares de pessoas acusadas de ameaçar ministros, produzir notícias falsas ou financiar sua disseminação, Bolsonaro reagiu em tom desafiador:
— Acabou, porra! Me desculpem o desabafo. Acabou! Não dá para admitir mais atitudes de certas pessoas individuais, tomando de forma quase que pessoal certas ações. Chega.
Na véspera, o filho Eduardo, o mesmo que em 2018 disse que para fechar o Supremo bastariam um cabo e um soldado, vaticinou que já não é questão de “se” mas de “quando” ocorrerá uma ruptura institucional. Comentário de Mourão:
— Me poupe. Ele é deputado, ele fala o que quiser. Assim como um deputado do PT fala o que quiser e ninguém diz que é golpe. Ele não serviu Exército. Quem vai fechar Congresso? Fora de cogitação, não existe situação para isso.
O vice-presidente não esconde a irritação com as intromissões indevidas dos filhos do presidente e já chamou Eduardo de “bananinha” quando criou um incidente diplomático com a China.
Em defesa das instituições, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, deu uma entrevista cautelosa, tentando evitar o confronto. Maia adotou mantra de que o Brasil deve se unir para combater o inimigo comum, o coronavírus, e que todos devem trabalhar para manter a harmonia entre os poderes.
De sua parte, o Supremo Tribunal Federal tomou uma decisão sensata: o pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, para que seja arquivado o inquérito das fale news, será apreciado pelos 11 ministros. O pedido de arquivamento havia sido feito pela procuradora Raquel Dodge, em 2019, mas, curiosamente, Aras expressou opinião contrária ao assumir a PGR.
Aliás
No início da noite, um novo ingrediente foi adicionado à crise que envolve o Planalto e o Supremo: um grupo de deputados fiéis ao presidente Jair Bolsonaro, liderados por Filipe Barros, ingressou com ação na Procuradoria-Geral da República contra o ministro Alexandre de Moraes, por abuso de autoridade.