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Basta juntar as declarações dos presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump para concluir que a intervenção militar na Venezuela está no cardápio dos dois. Unidos pelo desejo de tirar o ditador Nicolás Maduro do poder, Bolsonaro e Trump conversaram reservadamente sobre o futuro da Venezuela, tendo apenas Eduardo Bolsonaro e os intérpretes como testemunhas – e deram respostas que não descartam uma solução pelas armas.
Questionado pela repórter brasileira Simone Iglesias, que trabalha para Bloomberg, sobre o que combinaram a respeito da Venezuela, Bolsonaro respondeu:
– Tem certas questões que se você divulgar, deixa de ser estratégia. Assim sendo, essas questões reservadas que podem ser discutidas, se já não o foram, não poderão se tornar públicas, obviamente.
Mas garantiu:
– Tudo que tratamos aqui será honrado, mas, infelizmente, certas informações, se porventura vierem à mesa, não podem ser debatidas de forma pública.
Na sequência, a jornalista perguntou a Trump se pensa em intervenção militar na Venezuela para tirar Maduro do poder. Resposta curta e direta:
– Todas as possibilidades estão abertas.
Embora Bolsonaro tenha dito em reposta a outra pergunta que se tentará uma solução diplomática até as últimas consequências, outras manifestações do presidente, na mesma entrevista, sugerem que a utilização do poder militar dos Estados Unidos para “livrar a Venezuela da ditadura de Maduro” não é tão remota como gostariam os brasileiros preocupados com uma guerra no quintal do vizinho. Ao falar sobre a crise venezuelana, Bolsonaro adiantou:
– Discutimos a possibilidade de o Brasil entrar como um grande aliado extra-OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Há pouco permitimos que alimentos fossem alocados em Boa Vista (...) Agora, o que for possível fazermos juntos para solucionar o problema da ditadura venezuelana, o Brasil estará a postos para cumprir essa missão e levar a liberdade e democracia àquele país que há pouco era um dos mais ricos da América do Sul e hoje o povo passa fome, sofre violência, sofre com falta de medicamentos.
Bolsonaro abriu a manifestação à imprensa declarando sua admiração pelos Estados Unidos e reafirmando que “o Brasil tem um presidente que não é anti-americano, caso inédito nas últimas décadas”. Trata-se de uma meia-verdade, que o presidente repete com convicção, ignorando que Fernando Henrique Cardoso, por exemplo, cultivou relações amistosas com os Estados Unidos e que, mesmo nos governos de Lula e Dilma Rousseff, o comércio entre os dois países se manteve em patamares elevados. É verdade que houve resistência à Alca, mas também é verdade que todos os presidentes eleitos desde 1994 fizeram visitas oficiais aos Estados Unidos e que Billl Clinton veio ao Brasil em 1997, George W. Bush, em 2005 e Barack Obama, em 2011.
Visita de Obama ao Brasil:
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Visita de George W. Bush:
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Visita de Bill Clinton:
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